Sem clepsidra ou relógio o tempo escorre
E nós com ele, nada o árbitro escravo
Pode contra o
destino
Nem contra os deuses o mortal desejo
Hoje, quais servos com ausentes deuses,
Na alheia casa, um dia sem o juiz,
Bebamos e
comamos.
Será para amanhã o que aconteça.
Tombai mancebos, o vinho em nobre taça
E o braço nu com que o entornais fique
No lembrando
olhar
Como uma água que parece vinho!
Sim, heróis somos todos amanhã.
Hoje adiemos. E na erguida taça
O roxo vinho
espelhe
Depois — porque a noite nunca falta.
s.d.
Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de
Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994. - 200.
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