JeanRichard relança-se - reportagem no Fora de Série Especial Relógios 2013:
Na senda de Daniel JeanRichard
Por terra, mar e ar
Fernando Correia de Oliveira, em La Chaux-de-Fonds
Trás no seu nome toda uma carga histórica, que não passa indiferente aos conhecedores da relojoaria. Agora no seio de um dos maiores grupos de luxo do mundo, a JeanRichard relança-se, com cores de aventura.
Daniel JeanRichard (1665 - 1741), dito le Bressel, é uma figura mítica do cantão suíço de Neuchâtel. Conta a lenda que, em 1679, um negociante de cavalos trouxe para a região um relógio de bolso comprado em Londres e que se tinha avariado. O jovem Jeanrichard, ferreiro, teve curiosidade em ver o objecto e, autodidata, desmontou-o, arranjou-o e… decidiu fazer um igual.
Começa aí a aventura relojoeira de toda uma região, pois JeanRichard não apenas fundou uma oficina de relojoaria como inventou ferramentas e criou um sistema de produção, conhecido como établissage, em que cada artesão fazia uma parte do relógio. Instalado em Le Locle, treinou os cinco filhos e outros aprendizes, garantindo a continuidade da relojoaria nas montanhas de Neuchâtel. Até hoje.
No início dos anos 1980, o italiano Gino Macaluso, já então dono da Girard-Perregaux, comprou o direito de usar o nome Daniel Jeanrichard e fez ressuscitar a marca, no âmbito do Sowind Group. A dada altura, o primeiro nome, “Daniel”, caiu e a marca passou a chamar-se JeanRichard. Instalada em La Chaux-de-Fonds, produziu em meados da década de 2000 o seu primeiro calibre próprio.
Com a morte de Macaluso, o grupo de luxo PPR aumentou uma participação que tinha no capital do Sowind, passando a maioritário. Apostado em relançar a Girard-Perregaux e a JeanRichard, o PPR, que agora se chama Kering, está disposto a investir a médio e longo prazo no futuro destas manufacturas.
No caso da JeanRichard, pode falar-se mesmo de segundo renascimento. Em evento organizado no coração das montanhas de Neuchâtel (onde poderia ser mais?), a nova equipa dirigente – Michele Sofisti, CEO do Sowind Group, Massimo Macaluso (filho de Gino e CEO da JeanRichard) e Bruno Grande (COO da marca) apresentaram toda uma nova imagem – desde os expositores ao marchandising, passando pelo posicionamento de preço e o lançamento de novas linhas. Desde logo, a linha 1681, em homenagem a Daniel Jeanrichard e à data em que produziu o seu primeiro relógio, passará a ser a única equipada com o calibre JR1000. Para além da caixa redonda já existente, passará também a ter uma outra caixa, coussin. Desta linha serão feitas algumas centenas de exemplares por ano.
Mas o ênfase da nova fase JeanRichard será dado à linha desportiva. “O Tempo é uma filosofia de vida”, será o lema da marca, que quer projectar na sua comunicação a ideia que “não ser apenas um relógio, mas um estado de espírito”. Equipados com calibres ETA, estes relógios terão preços mais acessíveis e cobrirão Ar, Mar e Terra – Terrascope, Aquascope e Aeroscope serão os seus nomes. Todos automáticos, todos com caixas de 44 mm, de aço.
Gente comum, que faz coisas extraordinárias. É este o tipo de pessoas que a JeanRichard pretende para seu embaixador. Durante o jantar em La Chaux-de-Fonds, em directo, através do Skype, o comandante Chesley Burnett “Sully” Sullenberger, III foi a surpresa da noite. Ele foi o herói do voo de 15 de Janeiro de 2009 – aterrou um A320 nas águas do rio Hudson, ao largo de Manhattan, Nova Iorque, depois de ter chocado com aves minutos depois de descolar de La Guardia. A sua perícia, a sua calma, a coragem fizeram com que os 155 passageiros a bordo saíssem ilesos do acidente. Sully será o novo embaixador JeanRichard.
O funâmbulo Nik Wallenda, que tem batido recordes a passear-se num arame (a última façanha foi atravessar o Grand Canyon, sem sistema de segurança) também é embaixador da marca.
A nova imagem JeanRichard passa pelo uso de cores sépia, por embalagens reutilizáveis (podem passar a ser sacos de máquinas fotográficas, por exemplo). E por uma filosofia de proximidade com a Natureza, de evocação de tempo livre, viagens... desafios para viver em pleno.
Com uma produção totalmente mecânica, os novos JeanRichard destinam-se a ser “companheiros fiéis do dia-a-dia”, diz Bruno Grande. “Dedicados a todos aqueles que rejeitam o estereótipo e absorvem o mundo com gostos e distinção, os nossos relógios irradiam uma filosofia muito própria. Eles oferecem o seu tempo a todos aqueles que procuram autenticidade, que apreciam a exclusividade, que apreciam os saberes ancestrais da relojoaria helvética”.
“O nosso público-alvo para a colecção 1681 está numa faixa etária a partir dos 35 anos, com mais poder de compra e que procura trabalho manufacturado”, sublinha. “Já a linha desportiva Terrascope, Aquascope e Aeroscope, mais acessível, pretende conquistar jovens, que tenham sede de explorar o mundo, que queiram conhecer novas pessoas, culturas, paisagens”.