Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Livro do dia

As bolas do tempo

Uma das passagens do ano mais famosas do planeta é em Times Square, em Nova Iorque. O ritual da contagem decrescente, gritado por milhares e milhares de pessoas, e a queda de uma bola gigantesca, por um mastro abaixo será dentro de poucas horas repetido.

Um delicioso artigo no The New York Times conta-nos a história das bolas passadas. Todas elas com algo de especial. Está tudo aqui.

Facebook break?

Previsão de David Armano para 2010, em artigo na Harvard Business Review:

O telemóvel torna-se numa linha de sobrevivência social

Com aproximadamente 70 por cento das empresas e organizações a proibirem o uso das redes sociais e, simultaneamente, as vendas de telemóveis de última geração (smartphones) a aumentarem, é provável que os trabalhadores procurem alimentar as suas dependências em medias sociais através dos seus telemóveis. Aquilo que costumava ser a "pausa para um cigarro" poderá tornar-se na "pausa para os media sociais", desde que o sinal seja forte. Sendo assim, poderemos ver mais e ou melhor versões móveis da nossa droga social de eleição.

O artigo completo pode ser visto aqui.

Pilares do Tempo - CCI

Genebra

Newsletter de Horlogerie Suisse

Se for a Horlogerie Suisse terá acesso à mais recente newsletter deste site. O Baume & Mercier Classima Executives XL Chronographe et Calendrier complet é um dos relógios em destaque.

Newsletter da Cote des Montres

Já está disponível aqui a mais recente nesletter da Cote des Montres. O novo protótipo da Cartier, a que aqui já fizemos referência, é um dos assuntos principais.

Anos ou voltas ao Sol?

Crónica do Professor Carlos Fiolhais, no semanário Sol, sobre calendários, aqui.

Meditações - Ano Novo

Que espera a multidão
com este frio,
plantada ali defronte à estação
do Rossio?

Nada que justifique uma pneumonia...
Nada, afinal, para que assim se afoite:
- Espera apenas o fim de mais um dia,
quando o relógio marque a meia-noite.

Só há que o fim do dia por que espera
é, simultaneamente, o fim de um desengano
e o princípio de mais uma quimera
que, para muitos, vai durar um ano...

E a multidão - que vive o seu presente
em sonhos sem tom nem som -
está de nariz no ar, ansiosamente
à espera do Ano-Bom!

Espera, como quem espera
depois da fome, o pão;
depois do Inverno, a Primavera;
no tribunal - a salvação!

E quando, enfim, se cruzam os ponteiros
e a meia-noite soa,
o delírio electrisa os mais ordeiros
e sai fora de si o povo de Lisboa!...

O chinfrim ensurdece
e dir-se-ia que tudo se conhece,
tantos são
os abraços que se dão!

Soltam-se vivas, gargalhadas, gritos!
Bate-se em latas, tachos, caçarolas!
Tocam-se gaitas, sopram-se apitos
e dizem-se graçolas!...

Mas passada a vertigem de balburdia
da eterna farça da passagem do ano
- sobre a cidade em esturdia
cai o pano!

A vida, como sempre, continua
nem melhor nem pior: - tal qual o que era.
E a multidão dispersa, rua em rua,
mas... não desiste de ficar à espera!

Silva Tavares (1893-1964), in Calendário de Lisboa

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Duas Luas Cheias em Dezembro ou "Lua Azul"

Fenómeno raro - duas Luas Cheias num mês - ocorre este Dezembro e está tudo na página do Observatório Astronómico de Lisboa, aqui. A chamada "blue moon" ou "lua azul", ocorre a cada 2,7 anos.

Por outro lado, na noite de 31 de Dezembro ocorre um eclipse parcial da Lua, que pode ser observado em Portugal, como o OAL explica pormenorizadamente aqui.

Memorabilia - caneta relógios Adidas

Caneta Adidas

Wall Street Journal propõe novos calendários


Calendários são instrumentos de poder - religioso, político, económico - e cada poder quer impor o seu calendário. Sempre foi assim ao longo da história da Humanidade.

Em contagem decrescente para mais um ano, segundo o calendário gregoriano, aquele que rege praticamente todo o mundo, pelo menos do ponto de vista civil e laico, há sempre quem proponha novos esquemas, alegadamente mais perfeitos que o que vigora actualmente.

É o caso de dois novos calendários propostos pelo The Wall Street Journal. Não deverão ter grande êxito, vaticinamos nós.

Livro do dia

Pilares do Tempo - CC

Estocolmo

Relógio analógico e digital*

Bridging the gap between the classical and the modern, designer Jennifer Garrett has devised a hybrid timepiece that amalgamates the conventional style of analog with the contemporary precision of digital. The “Hybrid Time,” as the designer hail the clock, uses the digital disc to display the current time, date, weather and alarm settings when rotating around the face, while on the other hand, time is displayed in classic analog. In addition, the hybrid clock gets regular updates from a PC or internet-accessible device, with the time, weather and your customized scheduling, via a wireless transmitter.

Em the design blog, a partir de pista dada por Ralph Wokan.



Meditações - a última gota na clepsidra

Daba el reloj las doce... y eran doce
golpes de azada en tierra...

... ¡Mi hora! - grité- ... El silencio
me respondió: - No temas;
tú no verás caer la última gota
que en la clepsidra tiembla.

Dormirás muchas horas todavía
sobre la orilla vieja
y encontrarás una mañana pura
amarrada tu barca a otra ribera.

António Machado (1875 - 1939), poeta espanhol

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Tempo Suspenso - Gulbenkian apresenta obra das gémeas Wilson

É a maior exposição individual, até à data, das artistas britânicas Jane e Louise Wilson.

Nomeadas para o Turner Prize em 1999, as gémeas Wilson fazem parte da geração dos Young British Artists (YBA). Nascidas em 1967, trabalham e expõem juntas desde o início das suas carreiras.

A sua obra é constituída principalmente por vídeoinstalações e fotografias de grandes dimensões.

Entre outros trabalhos, serão apresentadas também cinco fotografias a preto e branco em larga escala dos bunkers da II Guerra Mundial, que serviram como extenso sistema de fortificações na
costa da Normandia, comportando as marcas da guerra e a memória do conflito e a disfuncionalidade no tempo presente, que as configura como ruínas modernas.

Tempo Suspenso, de Jane e Louise Wilson

22/01/2010 - 18/04/2010
10h00 - 18h00
Terça a Domingo
Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa

Chegado ao mercado

Fortis NRP Sagres. Calibre automático, Dia da Semana e Data; caixa em aço com fundo gravado com o desenho do Navio Escola Sagres, bisel rotativo unidireccional com gravação "N.R.P (Navio da República Portuguesa) Sagres", estanque até 200 metros. PVP: 1.265 €

Os votos de Bom Ano da ilustradora Cristina Sampaio

Time to run, time to stop


Around 2400 years ago, daoist master Zhuangzi (庄子, 370-301 a.C.) used to tell his disciples this parable:

Once upon a time there was a man that lived allways worried about his own shadow and the footprints he left – he considered them limitations to his freedom. So, he decided to take redeem of them. He began to run, but the footprints would appear so quick as he would put his feet on the floor; the shadow was also always with him, whatever the speed he would run. Then he thought: I should run even faster. And e run faster, faster, till he fall dead.

His mistake, concluded Zhuangzi, was not to understand that, if he would go to a shadowy place, his own shadow would disappear; and if he had stood still, his footprints would not appear again.

So – really there is a time to walk, a time to run, a time do stop and stand still. The science is to know when and where. And it is not so easy, after all.

With wishes of a 2010 suitable with all your expectations, here is some data that may be useful to you:

Chronological eras in 2010*

All data refers to the Gregorian calendar.

The 14th of January is the first of January in the Julian calendar

The year 2010 of the normal or Christ era is the 10th of the XXI century and corresponds to the year 6723 of the Julian period, containing the days 2 455 198 to 2 455 561.

The year 7519 of Byzantine era begins on the 14th of September.

The year 5771 of the Israelite era begins at sunset of the 8th of September.

The year 4647 of the Chinese era (year of the Tiger) begins at the 14th of February.

The year 2786 of the Olympic era (or second of the 697th) begins at the 14th of September, according to the byzantine rite.

The year 2763 of the Foundation of Rome “ab urbe condita”, according Varro, begins at the 14th of January.

The year 2759 of Nabonassar´s era begins at the 21th of April.

The year 2670 of the Japanese era, or 22 of the Heisei period (following the XÕ-Uá period), begins at the first of January.

The year 2322 of the Greek era (or Seleucida’s) begins, according present Syrian rites, at the 14th of September or at the 14th of October; it depends on the religious sects.

The year 2048 of Cesar’s era (or Hispanic), used in Portugal till 1422, begins at the 14th of January.

The year 1932 of the Saka era, in the Indian reformed calendar, begins at the 22th of March.

The year 1727 of Diocletian’s era begins at the 11th of September.

The year 1432 of the Islamic era (or Hegira) begins at the sunset of the 7th of December.

The year 166 of the Bahá’í’s era begins at the 12th of March.

Seasons:

For Portugal, Europe, the North Hemisphere

Spring (equinox) begins on the 20th of March, at 17:32

Summer (solstice) begins on the 21th of June, at 11:28

Autumn (equinox) begins on the 23th of September, at 03:09

Winter (solstice) begins on the 21th of December, at 23:38

ECLIPSES

2010 will have a partial and a total eclipse of the Sun (January 15th and June 11th) but both phenomena will not be seen in Portugal.

2010 will have a partial and a total eclipse of the Moon (26th of June and 21th of December), but only the second one will be seen in Portugal.

*Data collected from the Lisbon Astronomic Observatory

Livro do dia

Pilares do Tempo - CXCIX

Évora

Tempo para andar, tempo para parar

Há cerca de 2400 anos, o mestre daoista Zhuangzi (庄子, 370-301 a.C.) contava aos seus discípulos a seguinte parábola:

Certo homem vivia perturbado ao observar a própria sombra e as pegadas que deixava, que considerava grilhões à sua liberdade. Por isso, decidiu livrar-se delas. Começou a correr, mas sempre que colocava um pé no chão, lá aparecia uma nova pegada, enquanto a sombra o acompanhava sem a menor dificuldade, por maior que fosse a velocidade a que corria. Julgou que não estava a andar depressa o suficiente, pelo que aumentou a velocidade da corrida. Até que caiu por terra, morto.

O erro, concluiu Zhuangzi, foi o facto de ele não ter percebido que, se fosse para um lugar sombrio, a sua própria sombra desapareceria; e se tivesse ficado parado, as suas pegadas deixariam de aparecer.

Na realidade, há tempo para andar, e tempo para parar. Resta saber quando o devemos fazer. O que nem sempre é fácil.

Com votos de um 2010 à medida das suas expectativas, alguns dados que lhe poderão ser úteis:

ERAS CRONOLÓGICAS EM 2010*

Todas as datas são referidas ao calendário gregoriano

O dia 14 de Janeiro corresponde ao dia 1 de Janeiro do calendário juliano.

O ano 2010 da era vulgar, ou de Cristo, é o 10.º do século XXI e corresponde ao ano 6723 do período juliano, contendo os dias 2 455 198 a 2 455 561.

O ano 7519 da era bizantina começa no dia 14 de Setembro.

O ano 5771 da era israelita começa ao pôr-do-sol do dia 8 de Setembro.

O ano 4647 da era chinesa (ano do tigre) começa no dia 14 de Fevereiro.

O ano 2786 das Olimpíadas (ou 2º da 697ª), começa no dia 14 de Setembro, ao uso bizantino.

O ano 2763 da Fundação de Roma «ab urbe condita», segundo Varrão, começa no dia 14 de Janeiro.

O ano 2759 da era Nabonassar começa no dia 21 de Abril.

O ano 2670 da era japonesa, ou 22 do período Heisei (que se seguiu ao período Xô-Uá), começa no dia 1 de Janeiro.

O ano 2322 da era grega (ou dos Seleucidas) começa, segundo os usos actuais dos sírios, no dia 14 de Setembro ou no dia 14 de Outubro, conforme as seitas religiosas.

O ano 2048 da era de César (ou hispânica), usada em Portugal até 1422, começa no dia 14 de Janeiro.

O ano 1932 da era Saka, no calendário indiano reformado, começa no dia 22 de Março.

O ano 1727 da era de Diocleciano começa no dia 11 de Setembro.

O ano 1432 da era islâmica (ou Hégira) começa ao pôr-do-sol do dia 7 de Dezembro.

O ano 166 da era Bahá'í começa no dia 21 de Março.

ESTAÇÕES

A Primavera (Equinócio) começa a 20 de Março, às 17:32

O Verão (Solstício) começa a 21 de Junho, às 11:28

O Outono (Equinócio) começa a 23 de Setembro, às 03:09

O Inverno (Solstício) começa a 21 de Dezembro, às 23:38

ECLIPSES

Em 2010 há um eclipse anular e outro total do Sol, respectivamente a 15 de Janeiro e 11 de Julho, mas ambos os fenómenos não serão avistados de Portugal.

Em 2010 haverá um eclipse parcial e outro total da Lua, respectivamente a 26 de Junho e 21 de Dezembro, mas apenas este último será avistado em Portugal.

*Com base nos dados do Observatório Astronómico de Lisboa e do Calendário Celebração do Tempo 2010 (edições Paulinas)

Meditações - relógio adiantado

O tempo e a vida

Que bom ter o relógio adiantado!...
A gente assim, por saber
Que tem sempre tempo a mais,
Não se rala nem se apressa.
O meu sorriso de troça,
Amigos,
Quando vejo o meu relógio
Com três quartos de hora a mais!...
Tic-tac... Tic-tac...
(Lá pensa ele
Que é já o fim dos meus dias)
Tic-tac...
(Como eu rio, cá p´ra dentro,
De esta coisa divertida:
Ele a julgar que é já o resto
E eu a saber que tenho sempre mais
Três quartos de hora de vida).

Sebastião da Gama (1924-1952), poeta português

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A luta pela dignificação do Swiss Made na relojoaria

O jornal suíço de língua francesa Le Matin de hoje traz um artigo sobre os esforços que a indústria relojoeira suíça está a fazer para apertar mais os critérios da marca Swiss Made:

L'horlogerie suisse attend énormément du renforcement prochain du "Swiss made". Le secteur veut en finir avec une définition jugée trop laxiste pour l'heure.

"Il ne s'agit pas de protectionnisme. Simplement, il faut appeler un chat un chat", clame Jean-Daniel Pasche, président de son association faîtière. La Fédération de l'industrie horlogère suisse soutient, avec plus de 80% de ses membres, la révision législative "Swissness" que le Conseil fédéral a transmise au Parlement en novembre dernier.

Selon le président de la FH, "c'est le bon moment", à l'heure où certains doutes de consommateurs se font jour ici ou là. Si rien n'est entrepris, il y a un risque réel de tuer le concept en permettant la poursuite de l'érosion lente, mais inexorable de la marque suisse ("Swiss made"). Un enjeu majeur pour les horlogers.

60% du prix de revient

C'est pourquoi la FH s'investit pour voir adoptés des critères plus sévères. Jean-Daniel Pasche mise sur l'expérience du secteur, notamment la lutte anti-contrefaçons, pour protéger à long terme un label suisse qui globalement pèse plus de 1% du produit intérieur brut (PIB) suisse par an, soit quelque 6 milliards de francs.

L'association faîtière salue ainsi le taux minimum de 60% du prix de revient du produit qui doit être réalisé en Suisse, coefficient retenu par le Département fédéral de justice d'Eveline Widmer-Schlumpf. Le calcul intègre nouvellement les coûts liés à la recherche et au développement.

La FH compte porter le taux à 80% pour les montres mécaniques, en actionnant la capacité laissée à la branche pour affiner les critères dans une ordonnance spécifique. Celle-ci comprendra le prototypage et la construction technique, outre les critères traditionnels du mouvement, de l'assemblage et du contrôle final.

Une aubaine, se réjouit Jean-Daniel Pasche, selon qui "l'on va tout droit dans le mur si l'on continue avec la pratique actuelle". Il n'existe pour l'heure aucune limite de valeur pour les montres. On ne considère que le mouvement, dont 50% doit être d'origine suisse.

Enregistrement international

"Ce qui, selon les cas, peut ne représenter que très peu dans la valeur finale de la montre", déplore-t-il. Au-delà, la loi révisée, si elle est adoptée, ouvrira les portes de l'enregistrement international (système de Madrid) à la marque géographique suisse.

Il sera dès lors plus facile de déposer des "Certification Marks" (Swiss, Swiss made) à l'étranger, seul moyen d'obtenir une protection efficace dans les pays anglo-saxons. La FH a déjà engagé ce type de procédure à Hong Kong et aux Etats-Unis, les deux premiers débouchés à l'exportation.

La procédure a toutefois duré plus de sept ans. Et elle a engendré des coûts importants, faute de pouvoir s'appuyer sur le système de Madrid.

Le secteur décrochera par ailleurs une "officialité" en s'appuyant sur le registre des indications de provenance, facilitant la protection du Swiss made horloger dans des pays qui connaissent ce type de registre (de grands marchés comme l'Inde et le Mexique), un peu à la manière des produits viti-vinicoles.

Des opposants à la révision

Au-delà, Jean-Daniel Pasche estime que la loi révisée apportera une saine émulation pour la recherche en Suisse, avec à la clé la création d'emplois. D'après lui, la protection du "Swiss made" constituera le grand enjeu de l'année 2010, à commencer par la nécessité de convaincre les sceptiques et les opposants.

Parmi ceux-ci, on trouve 25 marques, dont certaines menacent de délocaliser. Selon Jean-Daniel Pasche, qui reste confiant de voir le processus législatif aboutir, des délocalisations auront lieu de toute façon si le Swiss made perd sa crédibilité. Dès janvier, la FH poursuivra ses rencontres avec diverses instances pour continuer à convaincre.

Memorabilia

Porta-chaves Piaget

Memória - Entre o ócio e o negócio*

Foi a sociedade romana que deu ao Ocidente (ao mundo) a noção moderna sobre a divisão e aproveitamento (eficácia) daquilo que temos de mais precioso, o Tempo.

Ante um otium, dedicado ao espaço público (Ágora), onde se praticava e se interagia com os outros nos campos da Política ou da Cultura, havia um nec otium, o para lá do ócio, ou negócio, período dedicado a ganhar dinheiro que permitisse, além de viver, o gozo do ócio.

Primum laborare, deinde philisophare, uma máxima também romana, já é uma alteração ética importante nesse conceito de divisão do tempo, onde se apregoa a lei “natural” de se trabalhar primeiro e se filosofar apenas depois. Afinal, estariam aqui as raízes do conceito de “tempo é dinheiro” introduzido algures no final da Idade Média europeia pela classe burguesa ascendente, e aplicado com todo o rigor pelo pensamento da Reforma, de Lutero ou Calvino.

O que é o Tempo? É aquilo que soubermos ou pudermos fazer dele.

Somos donos do nosso tempo? Para pobres e ricos, estejam onde estiverem, a resposta parece ser a mesma: cada vez menos.

Os ritmos naturais, ditados pelos nossos calendários biológicos ou pela movimentação dos astros (dia/noite, fases da Lua, marés, meses, Estações, ano), deram lugar a marcadores do Tempo ligados directamente às actividades agrícolas, e aqueles fizeram surgir os Livros de Horas e a Liturgia, que aí se encaixavam ainda na perfeição. Relógios de sol, de água, de areia serviam então bem para se saber do Tempo que era, de quando interromper o negócio e usufruir do ócio.

O ressurgimento dos burgos, o reabrir do comércio, o aumento da riqueza e sua concentração numa nova classe surgem a par de um novo invento, o relógio mecânico, laico, da torre do castelo ou do município, que passa a rivalizar com o Tempo que até então era monopólio do convento, do mosteiro, da igreja.

A Revolução Industrial rompe definitivamente com o ritmo rural, de sol a sol, e o relógio passa a ser o apito do comboio ou da fábrica. Os novos meios de comunicação e transporte concentram o tempo, que passa de local a nacional, de nacional a continental, de continental a global. E a percepção universal do tempo passa a ser imediata e difusa: o que se está a passar agora nos antípodas é também pertença do meu tempo, pois vejo, ouço, sinto, “ao vivo” tudo e todos; o meu local de trabalho é onde estiver, a qualquer hora, desde que “comunicável”.

Satélites, Internet, media mergulham-nos em permanência na última e einsteiniana dimensão e o otium e o nec otium deixam de ter fronteiras.

É sobre o Tempo e os seus medidores, é sobre a evolução de mentalidades derivada da maneira como temos lidado e pensamos vir a lidar com o Tempo que vamos falar aqui. Cintos apertados, começa a viajem na Máquina do Tempo.

*Crónica de A Máquina do Tempo, publicada no suplemento Casual (Semanário Económico), de 25/05/07

Livro do dia

Pilares do Tempo - CXCVIII

Tóquio

Meditações - relógio (?) avariado

Relógio

O meu relógio coitado,
Tem a corda avariada.
E por muitas coisas que faça,
Já não presta para nada.
Tão valente tem sido,
Agora foi-se-me abaixo.
Mas por enquanto não acho,
Que tenha nada partido.
O que deve estar é vencido,
Dá-me sinais de cansaço.
Nunca me tinha falhado,
E funcionou sempre bem.
E hoje não sei o que tem,
O meu relógio coitado.
Na linda prenda que usava,
Com imenso prazer.
Nunca cheguei a saber,
Com que pedras trabalhava.
Muita alegria me dava,
Ao romper da madrugada.
Dava o toque da alvorada,
Com coragem e valentia.
Mas já não faz o que fazia,
Tem a corda avariada.
As vezes dou-lhe em mexer,
A ver se o ponho a trabalhar.
Até me faz admirar,
Como isto pode acontecer.
Já tenho dito para a mulher,
E tu não vez esta desgraça.
Ela encontra-lhe graça,
A olha para mim a rir.
E eu tenho que desistir,
Por mais coisas que faça.
O meu relógio antigamente,
Nem um segundo falhava.
Agora quer é descanso,
Mas isso é constantemente.
E tudo acho diferente,
E até na própria pancada.
Não tem a toada,
Dos tempos que já lá vão.
Por perder toda a acção,
Já não presta para nada.

Anónimo, poesia popular portuguesa

domingo, 27 de dezembro de 2009

Livro do dia

Pilares do Tempo - CXCVII

Genebra

Chegado(s) ao mercado


Victorio & Lucchino Party. Calibres de quartzo, caixa em aço, estanque até 30 metros. PVP: 89 €

Iconografia do Tempo

Lisboa, Dezembro de 2009, Banco BPI

Há 427 anos: o relógio é introduzido na China

Padres mandarins na corte de Beijing, no séc. XVII

Desde o início que a Companhia de Jesus esteve ligada ao destino de Macau (os três primeiros padres chegaram ao território em 1562). Fundada como resposta de Roma ao movimento da Reforma, a nova ordem religiosa aproveitou a Expansão portuguesa, “colou-se” a ela, onde quer que ela fosse. O Oriente não foi excepção. O objectivo era “conquistar” pela fé aqueles desconhecidos, imensos e superpovoados territórios. E Macau, onde o primeiro bispo “do Japão e da China”, D. Melchior Carneiro, chega em 1568, era a antecâmara do Padroado Português do Oriente (monopólio religioso concedido pelo papa a Lisboa), que ali preparava os seus agentes evangelizadores no contacto com os hábitos e a língua dos gentios. Mas a resistência da China à entrada dos padres era grande.

Um dos religiosos dessa época, Francisco de Sousa, relata que, em 1582, ocorreu um incidente “do qual com maior fundamento se podia esperar serem os portugueses lançados de Macau, que os padres admitidos na China”.

Beijing tinha mudado de vice-rei de Cantão, a província que tinha poder administrativo sobre Macau. O novo mandarim acusava os portugueses de estarem a usurpar a justiça imperial, por levantarem tribunais ou decidirem causas. Além disso, estariam a “meterem estrangeiros em terra firme”, especialmente japoneses e cafres. Mandou o vice-rei que o Capitão de Macau e o seu Bispo, Belchior Carneiro, comparecessem perante si, em Chaoqin, no continente, onde residia. Os portugueses enviaram em nome do Capitão, o Ouvidor; em nome do Bispo, os religiosos Miguel Rugieri e Francisco Pacio.

Depois de um primeiro encontro, aprazível, em que a delegação ocidental apresenta sedas e cristais de presentes ao vice-rei (que as paga), faz-lhe chegar posteriormente a informação de que dispunha de “uma máquina de aço toda de rodas por dentro, que continuamente se moviam por si mesmas, e mostravam por fora todas as horas do dia e da noite, e ao som de uma campainha dizia o número de cada uma delas”.

E, perante a curiosidade ansiosa do vice-rei, dá-se o facto histórico: a 27 de Dezembro de 1582, os italianos Rugieri e Pacio fazem o que se pensa ser a introdução do primeiro relógio ocidental na China. Seria, segundo o que se sabe, um relógio de mediana grandeza, “obrado por excelente artífice”, e mandado da Europa ao padre português Rui Vicente, que o destinou à missão da China.

Apresentado o relógio, nas palavras de Francisco de Sousa, “foi o pasmo igual à novidade, e seria dobrado o gosto do vice-rei, se pudesse acomodar-se ao uso da China, que medindo o dia natural da meia-noite à meia-noite, como nós fazemos, não o reparte em vinte e quatro, senão em doze horas iguais: nem contam as horas por números, dizendo uma, duas e três, mas dão a cada uma delas o seu vocabulário misterioso, e alusivo segundo a sua crença”.

Segundo alguns historiadores chineses contemporâneos, o presente do relógio mecânico ao vice-rei de Cantão foi essencial para lhe ganhar as boas graças e conseguir a permanência dos portugueses em Macau. Sustenta ainda que foram os relógios – e outra mercadoria rara e idolatrada, o âmbar cinzento – que abriram a corte imperial, em Beijing, aos jesuítas, que tinham facilidades de comércio em toda a região.

Meditações - o que começa, perece

Tudo tem um fim; os séculos transcorridos estão para sempre acabados e é uma verdade que aquilo que começa deve perecer, tudo aquilo que cresce conhece a decrepitude e a morte. Não há obra criada que a velhice não ataque e não faça desaparecer.

São Jerónimo (342-420)

sábado, 26 de dezembro de 2009

As Boas Festas da escultora Clara Menéres

O tempo, segundo Anselmo Borges

Alertados pela Tribo de Jacob, fomos ler Anselmo Borges e a sua visão do tempo, na crónica que publica hoje no Diário de Notícias. Está aqui.

Memorabilia

Porta-chaves G-Shock

Sobre o ano novo

Texto da classicista Alexandra Azevedo, no de Rerum Natura, sobre o Ano Novo, pode ser lido aqui.

Chegado(s) ao mercado


Sector Ocean Master Chrono. Cronógrafo de quartzo, caixa em aço, estanque até 200 metros.

Pilares do Tempo - CXCVI

Estocolmo

Livro do dia

As Boas Festas do designer de produto Eric Giroud

Pista da semana - O relógio da Torre da Igreja Matriz de Moncorvo


Segundo relato de 1758 do pároco de Torre de Moncorvo, a povoação vizinha de Santa Cruz da Vilariça tinha sido abandonada a pouco e pouco por quem lá vivia, no início do século XIII, transferindo-se para Moncorvo. A razão, com o padre a dar foros de veracidade à versão popular, teria sido “pela multidão de formigas, que não só faziam dano considerável em todos os víveres, mas aos mesmos viventes lhes causavam notável opressão”. Pelo que, “resolvendo-se a evitar estes incómodos”, as gentes se transferiram “para o pé do monte Reboredo, onde havia umas casas de que era senhor um homem chamado Mendo”, com uma torre onde domesticara um corvo: daí, Torre de Moncorvo.

Na verdade, uma das explicações que mais tem sido empregue para achar este topónimo tem sido a existência de uma torre, pertença de um senhor local de nome Mendo Curvo. A figura existiu, há documentos que o comprovam. Foi um chefe militar, que liderou a guerra de Reconquista nessa zona e que, por isso, terá sido recompensado com terras e foral pelo rei leonês Fernando I, por volta de 1064. Depois, a situação de vassalagem dos senhores de Moncorvo terá passado para Afonso Henriques, em 1140, com o território raiano a ser integrado no novo país, chamado Portugal.

Augusto de Pinho Leal, no seu Portugal Antigo e Moderno, refere que, “vendo D. Afonso II que a nova povoação ia progredindo à custa da antiga, que se ia despovoando, fez mudar em 1216, para Moncorvo, o resto dos habitantes de Santa Cruz”. E dá outra explicação possível para o topónimo: corruptela de Mons Curvus, nome que os romanos deram ao adjacente monte de Reborêdo (que tem forma de curva).

Tendo começado por ser em Santa Cruz da Vilariça, tendo-se transferido ou sido construída de raiz em Moncorvo, existiu de qualquer modo ali uma torre (castelo). O conjunto era equipado com uma torre relojoeira. Sabe-se que essa torre ruiu cerca de 1670 e que a sua pedra foi utilizada na construção de outros edifícios.

Pouco antes da torre ir abaixo, o mecanismo do relógio foi mudado para a torre da Igreja Matriz, edifício começado a construir em 1554 e só terminado cerca de um século depois.

A primeira informação de que dispomos sobre o relógio data de 1639. António Júlio Andrade, no Dicionário Histórico dos arquitectos, mestres-de-obras e outros construtores da Vila da Torre de Moncorvo refere que, nessa data, um relojoeiro castelhano, Bartolomeu Sanchez, arrematou por 2.280 réis o concerto do relógio.

Eugénio Cavalheiro e Nelson Rebanda, em A Igreja Matriz de Torre de Moncorvo falam de reparações documentadas no relógio para os anos de 1702, 1719, 1740 e 1746. António Júlio Andrade, na obra supracitada refere os relojoeiros António Ferreira (1670), Manuel Alves de Sousa (1692), Simão Rubio (1702), M. Fernandes (1719), João Teixeira Garrancho (1740), o ferreiro de Urros (1746), Pedro de la Peña (1746), Frei Domingos de Santana (1803), Miguel Federico de Morais Leal (1843), António de Sousa Cardoso (1844) e João Teixeira Lopes (1859). Presumivelmente, todos eles terão tido acção de manutenção e concerto sobre a maquinaria do relógio.

Mas o caso mais interessante relaciona-se com um mecanismo, ligado ao relógio, e que não se sabe hoje se foi total ou parcialmente criado pela lenda. Corógrafos como António Carvalho da Costa, José Avelino de Almeida ou Augusto de Pinho Leal referem, mais ou menos pelas mesmas palavras, a existência de um zimbório a coroar a torre relojoeira. Nele havia uma esfera armilar, encimada de uma cruz, com um cata-vento. E, num coruchéu forrado de azulejos, estaria empoleirado um corvo mecânico, de ferro dourado, que “soltava tantas grasnadelas, quantas as horas que dava o relógio, e que se ouviam a grande distância”. Segundo a tradição, esse conjunto foi destruído por um raio.

Eugénio Cavalheiro e Nelson Rebanda não estão muito inclinados para acreditar na existência de tal aparato. “As coberturas de torres em azulejo, mesmo piramidais, são frequentes no século XVIII, pelo que não seria descabido aceitar esta hipótese, podendo a mesma confundir-se com a designação de zimbório. A sua destruição por um raio é também possível, dada a frequência das trovoadas e descargas eléctricas, motivadas pelo relevo e pela enorme concentração metálica (ferro) da serra do Reborêdo”. Quanto ao “corvo mecânico”, dizem que a versão popular “talvez fosse induzida por algum cata-vento com essa forma, dado o seu simbolismo para a vila”, que ostenta dois corvos no seu brasão. No entanto, “não é credível, aqui, a existência de mecanismos que emitissem sons, como se pretende, pois isso não passaria despercebido nos inúmeros pagamentos relativos ao conserto do relógio, referidos por documentação municipal”.

Autómatos públicos, ligados a mecanismos relojoeiros, estão generalizados nos séculos XVII e XVIII dos burgos europeus. Com outro tipo de sensibilidade para este património, as autoridades locais conseguiram mantê-los em bom estado, a funcionar, até hoje. Dado o total desprezo que gerações e gerações de entidades responsáveis eclesiásticas ou civis votaram, em Portugal, ao património relojoeiro de torre, não seria de admirar que o “corvo mecânico”, a ter existido, há muito tivesse desaparecido, sem deixar rasto. Mas, o mais provável é que ele não passe na verdade de lenda.



Quanto ao relógio da Igreja Matriz, dizem-nos Eugénio Cavalheiro e Nelson Rebanda em informação que nos fizeram entretanto chegar, foi colocado em 1931 pela casa “Miguel Marques Henriques / (casa fundada em 1905) / Relojoaria e Ourivesaria. – Av. De Liberdade / Albergaria-a-Velha”, segundo um papel colado na parede da cabine de madeira onde o mecanismo está instalado. Ele continua a trabalhar, fruto de intervenções recentes. Um funcionário da câmara local encarrega-se da sua manutenção diária. E, assim, o relógio mecânico lá vai dando as horas, exemplo cada vez mais raro num país inundado agora por evitáveis exemplares digitais que poluem o ar circundante com cantilenas fanhosas saídas de um qualquer “chip” e propaladas por um qualquer altifalante de feira.


Mesmo sem corvo grasnador, valerá bem a pena uma visita a Moncorvo, à sua Igreja Matriz e ao relógio mecânico que ostenta lá bem em cima.

Para saber mais: História do Tempo em Portugal - Elementos para uma História do Tempo, da Relojoaria e das Mentalidades em Portugal (Diamantouro, 2003)

Meditações - o tempo dança

Relógio da paixão

Um segundo é uma hora
e uma hora é um segundo
no relógio da paixão.

Não há tempo nesse tempo.
Quem ama nunca sabe
as horas que são.
E as horas também não sabem
onde os amantes estão.

No relógio da paixão
O tempo pára, retrocede, avança.
Não está parado nem está
em movimento.
Está perdido, mas não está perdido.
Como tu, que amas, apenas dança.

Álvaro Magalhães, (Porto, 1951), poeta e escritor infantil

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Nascido a 25 de Dezembro - mais ou menos...

Uma das personagens mais famosas da história da humanidade nascidas em 25 de Dezembro é o inglês Isaac Newton (em 1642). Mas a maioria das enciclopédias indicam a data de 4 de Janeiro do ano seguinte.

Newton nasceu, de facto, no dia de Natal de 1642, mas segundo o calendário juliano que então vigorava em Inglaterra e noutros países da Europa do Norte, correspondendo a 4 de Janeiro de 1643 no calendário gregoriano (hoje em vigor em praticamente todo o mundo).

O calendário gregoriano começou a ser usado em 1582, imposto pela bula Inter Gravissimas, do papa Gregório XIII. Aderiram desde logo ao novo calendário Espanha e Portugal (unidos na altura pela mesma coroa), seguidos de outros países católicos.

O calendário juliano tinha acumulado um desvio de cerca de dez dias em relação ao ritmo dos astros e a Páscoa estava a ser levada para cada vez mais tarde no ano. Com o calendário gregoriano, foram suprimidos dez dias, fazendo-se assim o acerto. Assim, o dia 4 de Outubro de 1582 passou a 15 de Outubro, o primeiro dia do novo calendário.

A Inglaterra adoptou o calendário gregoriano apenas a 2 de Setembro de 1752 do calendário antigo (14 de Setembro no novo - a diferença era agora de 12 dias).