Primeiros conselhos do outono
Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da natureza:
- «Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão,
Ter gemido, ainda infante, sobre o chão
Frio e cruel da mais cruel deveza,
Do que embalar-te a Fada da Beleza,
Como embalou, no berço da Ilusão!
Mais valera à tua alma visionária,
Silenciosa e triste ter passado
Por entre o mundo hostil e a turba vária,
(Sem ver uma só flor das mil, que amaste,)
Com ódio e raiva e dor - que ter sonhado
Os sonhos ideais que tu sonhaste!» -
Antero de Quental
terça-feira, 23 de setembro de 2014
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1 comentário:
“Almas irmãs da minha”
Antero de Quental
Sente comigo a natureza inteira
desde os astros do céu em movimento
às águas do oceano turbulento,
à acidulada amora da silveira.
Choram comigo as pedras do caminho,
os cardos junto à berma das estradas,
os olhos das crianças enjeitadas,
a casta flor do macerado linho.
Alegram-se comigo as cotovias
nos ninhos feitos entre as penedias
dos calvos montes do meu pátrio lar.
Fazemos todos uma só pessoa
porque afinal nenhum de nós destoa
da universal tendência para amar!
João de Castro Nunes
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