Cheguei ao fim. Andei de pé descalço
Deslustrei a fama que me deram,
Matei-me esfarelado, e hesitei
Vário, variei. Pra trás e pra diante
tropecei, empecilho, no teu entendimento.
Vim dos poentes tensos, rapidíssimos,
sobre a terra crestada de moléstia,
vazio de uniforme e de uma carta a chegar.
Engrossei a gravata, fiz sorriso
da careta que a alma me ditou,
pontuei o discurso. __ Vindimei.
Andei de flor em flor nos intervalos
de cantar muito a sério que sem asas
é na cadeira que tenho de sentar
o cu dorido de toda a eternidade:
e a mão, a mesma, a mão direita
mas sinistra, passa do corrimão
para a caneta, a preta, não descreve,
e escreve. Páro de percorrer.
Discorro.__ Mais: decorro, e sem saber
de que novelo saio.
Por sobre o ombro (dói!) lobrigo
tantas confusas coisas, falo delas.
Colo então à própria vista a escrita,
o peso, o contrapeso, a palavra que digo.
Sufoco o medo a medo, e olho a esteira
remudo e quedo, sentado na cadeira.
Pedro Tamen, in “Memória Indescritível”, Editora Gótica, Lisboa, 2000
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