(arquivo Fernando Correia de Oliveira)
A 29 de Agosto de 1953, foram precisas as assinaturas do Presidente da República, Craveiro Lopes; do Presidente do Conselho (primeiro-ministro), Salazar; e do discípulo deste último e Ministro das Finanças, Águedo de Oliveira, para que a Emissora Nacional de Radiodifusão adquirisse à Siemens, e em três prestações, um relógio de quartzo para o seu serviço horário. Custou 250 mil escudos, ou 250 contos, ou ainda 1.250 euros, uma importância considerável à época (o salário médio anual nacional em 1953 era de 7,8 contos).Terá sido um dos primeiros, se não o primeiro, relógio de quartzo adquirido em Portugal, demonstrando o peso institucional e social do Sinal Horário da Emissora Nacional no país (data de 1972 a aquisição de uma central horária com relógio de quartzo, marca Patek Philippe, para o Observatório Astronómico de Lisboa, entidade que ainda hoje define e emite a Hora Legal nacional).
Sobre o Sinal Horário da Emissora Nacional (RDP depois do 25 de Abril de 1974 e hoje RTP), escrevemos em História do Tempo em Portugal (2003):
Recorda-nos Mário Costa, nas suas Duas curiosidades
lisboetas..., que dois elementos contribuíram no século XX português para a
vulgarização e conhecimento da hora oficial: um foi o relógio falante, da
Companhia dos Telefones de Lisboa (uma gravação à hora, minuto e segundo, o
célebre “ao terceiro sinal serão...), que ainda vigora, mas agora abreviado –
“ao segundo sinal serão…”
O segundo elemento é o sinal horário da Emissora Nacional de Radiodifusão, iniciado quando a rádio era o grande meio de ligação comunitário luso, “de Lisboa a Timor”. Esse sinal sobreviveu aquando da passagem da mudança de nome da Emissora Nacional para RDP (depois da democratização do país, em 1974) e só em 1992 foi extinto temporariamente por uma administração apressada. Perante os protestos generalizados, pouco depois estava de novo no ar. Em Setembro de 2003, com o pretexto de entrada em vigor de uma nova grelha de programação, o sinal foi mais uma vez abolido e substituído por um mais anódino. Logo voltaram os protestos. Um “histórico” como Adelino Gomes, dizia que se tinha deitado para o lixo, num segundo, “o mais belo sinal horário do mundo”, “solene e límpido”, “a imagem de marca, o referencial estético sonoro do serviço público de Radiodifusão”. A própria Comissão de Trabalhadores diria que o desaparecimento do velho sinal horário, de “estética subtil” e “património” da empresa, “é como se a Rolls Royce repentinamente retirasse o ícone da ‘proa’ dos seus carros”.
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