Entre a fotografia de cima e a de baixo há quase 45 anos de amizade. João Pedro Martins foi meu camarada ao longo da carreira nas agências noticiosas. Por dias, antecedeu-me na entrada na ANI, em Janeiro de 1974. Ele estudante em Letras, eu em Direito. Faleceu na noite de ontem.
Em baixo, a 20 de Dezembro de 2017, a última vez que João Pedro Martins conviveu com amigos, jornalistas que, tal como ele, fizeram a sua carreira nas agências noticiosas.
De João Pedro Martins, ninguém poderá dizer mal. Vivia muito bem consigo e com os outros. E lidava com optimismo contra o cancro, numa batalha de quatro décadas. "Desde que não me doa", costumava atirar, com o sorriso solar e bondoso com que brindava quem se aproximava dele.
Delegado da Agência Lusa em Évora durante os anos de brasa da Reforma Agrária, a sua independência, profissionalismo e bonomia ajudaram a que ali fizesse um trabalho difícil, arriscado, mas exemplar.
Regressado a Lisboa, cedo fez carreira em Documentação e Arquivo. Mas o seu gabinete era, antes de mais, "muro de lamentações", caixa de confidências de camaradas, eles e elas à procura de um ombro amigo, de quem os escutasse. E João Pedro Martins sabia escutar, tinha compromisso de reserva. Sabia muito, não revelava nada.
Da memória de vários computadores fomos buscar quase 45 anos da vida de João Pedro Martins. Da nossa vida. Acompanhámos namoros, casamentos e divórcios de um homem charmoso. Sempre calmo, optimista, apreciador de mulheres bonitas, bons carros, grandes motas, vinhos e comida, há 15 anos que se tinha instalado na sua quinta de Marinhais. Onde sabia receber.
João Pedro Martins acreditava na imortalidade do espírito. Isso te-lo-á ajudado nos dias derradeiros de vida. Neste tipo de notas, costuma-se falar com quem faleceu, como se essa pessoa ainda nos pudesse ouvir. No caso do João Pedro, se ele estava (está) certo, podemos, por maioria de razão, dizer "Salve camarada, amigo, irmão!".
O chamado "Grupo de Marinhais". Fernando Fraga da Silva, em pé, à direita, também já faleceu. Em baixo, uma série de fotografias dos primeiros tempos da carreira de João Pedro Martins
Acabado de saír de mais um internamento, João Pedro Martins convive pela última vez com os amigos. Em baixo, um pot-pourri de imagens do nosso arquivo, que nos levam no tempo e no espaço por bons momentos.
Três gerações - O João Pedro Martins não morre enquanto houver memória do Homem Bom que foi
3 comentários:
Emocionante e um retrato da forma de sentir do Joao. Do nosso tão querido João. Muito, muito obrigada FO.
No meu caso mais de 50 anos de amizade que a memória não deixará apagar. Até um dia destes ..
Grata pela forma tão carinhosa que todo o grupo de Marinhais tratava o João Pedro, o grande amor da minha vida. Até sempre
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