Estivemos por estes dias em Le Locle e Le Brassus, no Valée de Joux, Suíça, a visitar, respectivamente, a Renaud & Papi e a Audemars Piguet. Objectivo principal da visita: ouvir o som do Royal Oak Concept Supersonnerie, o relógio de pulso que terá restituído ao Tempo uma voz que já não se ouvia desde a era dos relógios de bolso...
A nossa base foi o Royal Savoy, em Lausanne, um cinco estrelas recentemente reaberto
A partir daí, a exploração diária no "caminho das delícias", que é como quem diz, o mergulhar no mundo das complicações sonoras e outras grandes complicações relojoeiras que estão impregnadas desde a fundação no ADN da Audemars Piguet.
Almoço no Auberge du Mont Cornuz, nos arredores de La Chaux-de-Fonds
O co-fundador da empresa especializada em Grandes Complicações Renaud & Papi, Giulio Papi, onde o Audemars Piguet Royal Oak Concept Supersonnerie foi desenvolvido, assina um livro de sua autoria.
Já na Renaud & Papi, entretanto adquirida a 80 por cento pela Audemars Piguet, Giulio Papi explica os 8 anos de pesquisa e desenvolvimento e os 6 milhões de francos suíços que levaram ao Supersonnerie.
Com caixa de 44 mm de diâmetro e 16,5 mm de espessura, de titânio, o Audemars Piguet Royal Oak Concept Supersonnerie tem coroa e botões de cerâmica negra e é estanque até 20 metros de profundiade. Esta última característica, inédita em relógios com complicaçóes sonoras, remete para a grande alteração que a manufactura introduziu no seu repetição minutos - os bordões ou gongs estão afixados a uma caixa de ressonância completamente independente, e não à caixa exterior.
Equipado com o calibre de carga manual 2937, além de repetição minutos, é um cronógrafo com turbilhão.
Mas falemos do som deste repetição minutos (a pedido, faz soar horas, quartos e minutos) com dois gongs. É absolutamente diferente de todos os repetições de pulso que temos ouvido - quanto à intensidade, à clareza, à harmonia.
Quando há apenas horas e minutos a assinalar (11h14, por exemplo), os outros repetições fazem uma pausa entre os onze sons das horas e os catorze sons indicando os minutos, pois estão a ler, em silêncio, os quartos que não são necessários. O Supersonnerie elimina essa pausa, e o som das horas é seguido de imediato pelo dos minutos.
Na imagem "explodida" do Supersonnerie da Audemars Piguet, vê-se claramente a caixa de ressonância onde se fixam os bordões ou gongs, aparafusada de forma a tornar o relógio estanque. Depois, vem ainda o fundo da caixa, também ele aparafusado, e com aberturas, para que o som dos gongs possa sair mais facilmente.
A concorrência ficou literalmente "atordoada" com o som conseguido por este repetição minutos da Audemars Piguet. E algumas manufacturas até avançaram, à boca pequena, que o som do Supersonnerie era "demasiado alto" para uma complicação sonora tão tradicional e cheia de tantos pergaminhos. A Audemars Piguet, ironicamente, responde que já tem solução para esse "problema" - está a desenvolver um método muito simples para haver uma graduação manual da intensidade de som do seu relógio. (Giulio Papi não disfarçou um sorriso maroto quando nos explicou a solução, que é evidente mas não podemos ainda divulgar).
O único "problema" que antevemos no Supersonnerie será o preço: cerca de meio milhão de euros. Não se trata de um relógio de série limitada, mas a sua complexidade faz com que apenas uns seis possam ser produzidos anualmente. Mas já há lista de espera...
O outro problema, claramente, é para a concorrência. As poucas manufacturas que têm capacidade para produzir repetições minutos têm agora um termo de comparação muito difícil de igualar. O Supersonnerie (nome ainda provisório) estabeleceu parâmatros de som inéditos para um relógio de pulso.
Em baixo, imagens da Audemars Piguet Renaud & Papi, no departamento onde os Supersonnerie estão a ser montados.
Um dos jantares do grupo de jornalistas e clientes finais foi na Fondation Jan Michalski pour l'écriture et la littérature, que pela primeira vez se abriu para um evento público.
Dedicada ao fomento do Livro, da Literatura e da Criação Literária, tem uma biblioteca de centenas de milhares de livros, comprados todos eles em pequenas livrarias independentes, para ajudar ao comércio local neste segmento. Há uma importante secção de obras em língua portuguesa.
A fundação convida escritores a passarem estadas em espaços espalhados pelas suas instalações, huts tipo palafita - contratou arquitectos de todo o mundo para a sua concepção - incentivando a criação literária. A vista, sobre vales e montanhas, não poderia ser mais inspiradora.
De Le Locle, onde fica a Renaud & Papi, passou-se para Le Brassus, a mil metros de altitude, e onde estão as raízes seculares da Audemars Piguet, a única empresa relojoeira que mantém uma actividade ininterrupta sempre nas mãos dos seus fundadores - as famílias Audemars e Piguet.
O Brassus (braço superior), o rio subsidiário do Orbe, que deu o nome à localidade de Le Brassus.
Atelier de decoração na Audemars Piguet
No Departamento de Restauro da Audemars Piguet, com o mestre relojoeiro espanhol Francisco Pasandin. Na mesa, vários repetições minutos e grandes sonneries fabricados pela Audemars Piguet ao longo de vários períodos da sua história. O som destas peças de bolso inspirou as soluções encontradas para o Supersonnerie.
A Audemars Piguet mantém o registo individual de todos os relógio que produziu desde 1875, data da sua fundação. Segundo nos disseram, a manufactura aproxima-se de um número marco - o milhão de peças.
Ébauches e outras peças de relógios Audemars Piguet antigos. Durante a crise do quartzo muito deste material foi deitado para o lixo, como aconteceu na generalidade das outras manufacturas.
No Museu da Audemars Piguet. Em cima, a árvore genealógica dos Audemars e dos Piguet, radicados há séculos na região.
A visita terminou com a audição de sete relógios de bolso Audemars Piguet, de diferentes tamanhos. O som de todos eles serviu para inspiração e aferição do som que se conseguiu depois no Supersonnerie. O Tempo voltou a ter voz forte. Para apreciar o som do Audemars Piguet Royal Oak Concept Supersonnerie, vá aqui.
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