Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Meditações - admiráveis relógios

Toda a cidade tem o seu coleccionador ou antiquário, toupeira morosa que anda na ruína das coisas, à procura de histórias eruditas ou preciosidades sepultas, quase sempre armada de uns óculos que em verdade lhe não deixam ver melhor pelos problemas a dentro. O da minha terra [Beja] obedecia a este cliché dos antiquários de província, estáticos hoje perante o trevo bárbaro dum pórtico, e loucos amanhã pela descoberta de algum tríptico exilado no fundo de alguma paróquia entre as brenhas. [...]
[Vicente Prostes] Era um pequeno velho, mesquinho, arrastando um pouco de uma perna, os seus olhitos azuis, em cujo fundo, como numa gruta, havia ossadas de antigas ironias [...]
Tem mais bocados a vida, quando o egoismo da corja vem decepar o melhor de uma ambição secreta e íntima, e nos faz dentro morrer o entusiasmo por um ideal entresonhado.
Bem no sabia o misantropo antiquário, que no subterrâneo maior do seu museu, diante de uma mesa carregada de Saxes, estatuetas, jarrões, cestos, quermesses, pratas artísticas, velhos bronzes gravados, admiráveis relógios, miniaturas e alfaias de serviço religioso, ficava muito tempo a considerar um espaço vazio ao centro do movel [...]

Fialho de Almeida (1857 - 1911), in O País das Uvas

4 comentários:

Erk disse...

Obrigado por estes vislumbres de iluminantes fragmentos, que por aqui, e a pretexto das fascinantes máquinas de contar o tempo, nos vai oferecendo.

Abraço.

Fernando Correia de Oliveira disse...

um abraço também para ti, meu caro
obrigado

João de Castro Nunes disse...

A referência feita por Fialho
à figura do velho antiquário
não deve as honras ter de comentário
por mais não ser que sórdido enxovalho!

JCN

João de Castro Nunes disse...

UM CRISTO... SINGULAR

Em Padrón, na Galiza, há vários anos,
travei conhecimento ocasional
com certo antiquário original
que superava todos os ciganos.

Tinha de tudo um pouco: castiçais,
imagens de marfim e de madeira,
relógios, pistolões de pederneira,
coisas assim, de tempos ancestrais.

Fiado nas histórias que contava,
apalavrei algumas velharias
com as correspondentes garantias.

Tudo estragou, porém, quando após isto
me quis mostrar um Cristo que datava
de trezentos e tal... antes de Cristo!

JOÃO DE CASTRO NUNES