A 20 de Outubro de 1913 tinha início no Observatório Astronómico de Paris a Conferência Internacional da Hora, com a presença de representantes de 27 Estados. Por Portugal, esteve Lambertini Pinto, Chefe de Departamento no Ministério dos Negócios Estrangeiros.
José Maria Lambertini Pinto, Encarregado de Negócios Interino na Legação em Roma em 1910, foi depois Ministro Plenipotenciário na Legação de Berlim, onde esteve em 1920 e 1921, interronpendo o interregno durante o corte bi~lateral de relações na I Guerra Mundial, e sucedendo no cargo a Sidónio Pais, que lá tinha estado entre 1912 e 1916. Não se lhe conhece qualquer preparação científica.
In Ilustração Portuguesa, 2.ª série, n.º 769, 15 de Novembro de 1920
Nesta Conferência Internacional da Hora se encara pela
primeira vez a hipótese de a Torre Eiffel, então propriedade privada, poder ser
utilizada como emissor universal de sinais horários, já que a estação
radiotelegráfica ali instalada era de domínio público. A França garantiu que o
monumento seria internacionalizado para a emissão dos sinais horários. Isso contribuiu
para que a estrutura de ferro, que se pensou para ser efémera, feita para a Exposição
Universal de 1889, se tornasse perene.
O Bureau Internacional da Hora, em consequência da
potência da estação radioeléctrica na torre, ficaria assim, logicamente, confirmado com sede em Paris. Até hoje.
A conferência duraria até dia 27. A 25, aprova-se uma
Convenção e a criação da Associação Internacional da Hora. No Relatório da
reunião constata-se que o representante português não está presente. Mas
Portugal seria signatário da nova organização mundial.
O novo organismo terá como objectivo a unificação da hora, através do envio de sinais radiotelegráficos de alta precisão, respondendo às necessidades da navegação, meteorologia, sismologia, caminhos-de-ferro, correios e telégrafos, administrações públicas, relojoeiros, particulares, etc.
Numa das sessões, um dos intervenientes faz notar que os
sinais emitidos pela Torre Eiffel, e recebidos no Observatório Astronómico de
Pulkowo, Rússia, são de grande exactidão, permitindo que as diferenças de longitude
entre os dois locais se faça automaticamente e com grande precisão, quando
antes era feita manualmente pelos astrónomos. O observatório de Pulkowo serviu arquitectonicamente
de inspiração ao Real Observatório Astronómico de Lisboa.
O matemático francês Jean-Gaston Darboux, que presidiu à Conferência, diria no banquete de despedida: “A luz hertziana, segundo a bela expressão de Henri Poincaré, vê as suas ondas atravessar vales e montanhas: ela traz por vezes a saúde lá onde a morte iria prosseguir a sua obra. É ao conjunto das nações civilizadas que o seu estudo deve ser reservado. […] Neste momento, não creio que a Ciência emita torrentes de luz: mas ela não cessa, no entanto, de produzir coisas boas, que ninguém contestará. O automóvel o aeroplano, a telegrafia sem fios cá estão para o demonstrar”, Menos de um ano depois, em Julho de 1914, a Europa entraria em guerra.
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