Estado de alma
Inutilmente vivida
Acumula-se-me a vida
Em anos, meses e dias;
Inutilmente vivida,
Sem dores nem alegrias,
Mas só em monotonias
De mágoa incompreendida...
Mágoa sem fogo de vida
Que a faça viva e sentida;
Mas a mágoa de mãos frias
E inaptas para arte ou lida,
Nem pra gestos de agonias
Ou mostras de alma vencida.
Nada: inerte e dolorida,
A minha dor se extasia
Por não ser, e tem só vida
Para em torno a noite fria
Sentir vaga e indefinida...
Fernando Pessoa
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Que triste foi a existência
de Pessoa, cuja casa
primou sempre pela ausência
do conforto de uma brasa!
JCN
Enviar um comentário