Embora não esteja aparentemente mencionado em nenhum lado o número deste relógio, poderá tratar-se do primeiro que Veríssimo Alves Pereira construiu. Esteve até há pouco tempo “numa herdade do Alentejo”, segundo informação do antiquário que hoje possui a peça.
O relógio é composto por um mecanismo de pêndulo, a que acresce um outro, a ele ligado, e que faz mover horizontalmente uma roda de metal, onde estão desenhadas as 24 horas do dia (a branco, as de dia; a preto, as de noite).
O relógio está no interior de um cilindro de metal, forrado com um mapa-mundo francês, de que não descobrimos a casa editora, datado aparentemente de 1868. Logo, o relógio será posterior. O mapa-mundo usa como meridiano zero ou de referência o de Paris. Só em 1884, na Conferência de Washington, fica estipulado que o sistema de fusos horários passaria a ter como meridiano zero o que passava pelo Observatório Astronómico de Greenwich. E Portugal usava na altura os meridianos zero dos observatórios de Lisboa e Coimbra, primeiro; apenas o de Lisboa, depois. Só em 1 de Janeiro de 1912 o meridiano de referência para Portugal passou a ser o de Greenwich.
O relógio de Horas Universais de Veríssimo Alves Pereira agora encontrado tem um outro anel, graduado a 360 graus. Esse aro pode mover-se para ajustar ao meridiano de referência (zero graus).
O relógio de Horas Universais de Veríssimo Alves Pereira agora encontrado tem um outro anel, graduado a 360 graus. Esse aro pode mover-se para ajustar ao meridiano de referência (zero graus).
O mapa ostenta a assinatura “Veríssimo Alves Pereira inventou e fez, Lisboa”. Num dos exemplares que já estudámos existente no Museu da Fundação Portuguesa das Comunicações, a assinatura é diferente: “Veríssimo Alves Pereira, inventor e construtor, Lisboa 1874”. De qualquer forma, a frase latina invenit et fecit, usada na idade média pelos vários Ofícios para indiciar a identidade de quem fez a obra parece ter sido inspiradora desta personagem polifacetada. (François-Paul Journe, um relojoeiro francês contemporâneo, um dos mais celebras da actualidade, assina os relógios de pulso que produz exactamente com a frase invenit et fecit)
O relógio assenta numa base de madeira, forrada a pau-santo. E o conjunto superior deveria ter uma redoma de vidro a cobri-lo, protegendo-o do pó, pois há uma ranhura a toda a volta do móvel onde ela assentaria. Mas também os exemplares existentes no Museu da Fundação Portuguesa das Comunicações estão hoje sem redoma.
Os três exemplares conhecidos são encimados por estátuas de Cronos, alado e com uma foice. O do exemplar agora detectado é em barro pintado e não está assinado.
O relógio assenta numa base de madeira, forrada a pau-santo. E o conjunto superior deveria ter uma redoma de vidro a cobri-lo, protegendo-o do pó, pois há uma ranhura a toda a volta do móvel onde ela assentaria. Mas também os exemplares existentes no Museu da Fundação Portuguesa das Comunicações estão hoje sem redoma.
Os três exemplares conhecidos são encimados por estátuas de Cronos, alado e com uma foice. O do exemplar agora detectado é em barro pintado e não está assinado.
O exemplar nº2, existente no Museu da Fundação Portuguesa das Comunicações.
Assinatura no exemplar nº2
Cronos alado, no exemplar nº2
Pormenor do exemplar nº2, onde se vê a base onde assentaria a redoma de vidro.
Prédio na Rua da Boa Vista, onde terá funcionado a Associação a que pertenceu Veríssimo Alves Pereira.
Quem foi Veríssimo Alves Pereira?
Como escrevemos em Relógios e Relojoeiros - Quem É Quem no Tempo em Portugal (Âncora, 2006), foi um relojoeiro construtor, activo na segunda metade do séc. XIX.
Para além dos relógios de Horas Universais, foi construtor e inventor de meridianas, com maquinismos especiais que, ao meio-dia solar, faziam tocar sinos e davam tiros de canhão, para que as pessoas pudessem acertar os relógios.
A mais célebre das meridianas esteve montada na Torre dos Clérigos, no Porto. Fez uma meridiana mais sofisticada para Lisboa, que esteve primeiro no Castelo de São Jorge, depois, no Observatório Astronómico à Escola Politécnica e, finalmente, a partir de 1866, no jardim de S. Pedro de Alcântara.
O Almanaque Bertrand, de 1900, dedica à meridiana de Lisboa um artigo, onde se conta que os lisboetas se aglomeravam à sua volta, por volta do meio-dia, para acertarem os seus relógios pela “hora verdadeira, a hora do Sol”.
Foi professor de relojoaria na Casa Pia de Lisboa, juntamente com o amigo Augusto Justiniano de Araújo, de quem foi sócio na Fábrica de Relógios de Torre, fundada em 1870, na Rua da Boavista, em Lisboa. Fabricou pois também relógios de torre. Aliás, nos Arquivos da Câmara de Lisboa encontra-se um contrato assinado em 1872, onde Veríssimo Alves Pereira se compromete a aproveitar e a concertar algumas peças de um antigo relógio do Convento do Carmo, que batia horas e meias-horas. Dessa máquina não há hoje rasto.
Júlio Castilho, na sua “Lisboa Antiga” diz que esta curiosa personagem “andava sempre com algum projecto, algum invento útil, alguma facilitação industrial, alguma aplicação novíssima da mecânica” na cabeça. E, como todos os inventores, “explicava em termos prolixos, a quem quer que encontrasse, as vantagens de tal ou tal aparelho, os pormenores de tal ou tal engrenagem, sem querer saber se o seu interlocutor se achava no ponto de vista dele, e comungava das mesmas ideias”.
Veríssimo Alves Pereira foi membro da Associação Industrial Portuense, colaborou na Revista Universal Lisbonense – Por uma Sociedade Estudiosa (1862-1853), com sede na Rua dos Fanqueiros, 82. Foi dos membros mais activos da Associação Promotora da Indústria Fabril, fundada em 1837, génese da actual Associação Industrial Portuguesa, e que editava a Gazeta das Fábricas, tendo sede na rua da Boa Vista, perto do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa.
Mas as actividades deste homem fascinante não terminariam por aí. Teve estabelecimento de instrumentos musicais na Baixa lisboeta, que fabricava. E até comercializava contadores de água, patente sua, que considerava muito superiores aos que Lisboa começava a importar de Inglaterra, no início da construção do sistema de abastecimento ao domicílio pela Companhia das Águas. Há um divertido folheto de Veríssimo Alves Pereira, de 1871, a explicar as virtudes do seu contador.
Prédio na Rua de São João da Mata, onde Veríssimo Alves Pereira teve, juntamente com Augusto Justiniano de Araújo, uma fábrica de relógios de torre. A dada altura, funcionou aí a Escola de Relojoaria da Casa Pia de Lisboa, de que Araújo foi Director e Alves Pereira professor.
Quem foi Veríssimo Alves Pereira?
Como escrevemos em Relógios e Relojoeiros - Quem É Quem no Tempo em Portugal (Âncora, 2006), foi um relojoeiro construtor, activo na segunda metade do séc. XIX.
Para além dos relógios de Horas Universais, foi construtor e inventor de meridianas, com maquinismos especiais que, ao meio-dia solar, faziam tocar sinos e davam tiros de canhão, para que as pessoas pudessem acertar os relógios.
A mais célebre das meridianas esteve montada na Torre dos Clérigos, no Porto. Fez uma meridiana mais sofisticada para Lisboa, que esteve primeiro no Castelo de São Jorge, depois, no Observatório Astronómico à Escola Politécnica e, finalmente, a partir de 1866, no jardim de S. Pedro de Alcântara.
O Almanaque Bertrand, de 1900, dedica à meridiana de Lisboa um artigo, onde se conta que os lisboetas se aglomeravam à sua volta, por volta do meio-dia, para acertarem os seus relógios pela “hora verdadeira, a hora do Sol”.
Foi professor de relojoaria na Casa Pia de Lisboa, juntamente com o amigo Augusto Justiniano de Araújo, de quem foi sócio na Fábrica de Relógios de Torre, fundada em 1870, na Rua da Boavista, em Lisboa. Fabricou pois também relógios de torre. Aliás, nos Arquivos da Câmara de Lisboa encontra-se um contrato assinado em 1872, onde Veríssimo Alves Pereira se compromete a aproveitar e a concertar algumas peças de um antigo relógio do Convento do Carmo, que batia horas e meias-horas. Dessa máquina não há hoje rasto.
Júlio Castilho, na sua “Lisboa Antiga” diz que esta curiosa personagem “andava sempre com algum projecto, algum invento útil, alguma facilitação industrial, alguma aplicação novíssima da mecânica” na cabeça. E, como todos os inventores, “explicava em termos prolixos, a quem quer que encontrasse, as vantagens de tal ou tal aparelho, os pormenores de tal ou tal engrenagem, sem querer saber se o seu interlocutor se achava no ponto de vista dele, e comungava das mesmas ideias”.
Veríssimo Alves Pereira foi membro da Associação Industrial Portuense, colaborou na Revista Universal Lisbonense – Por uma Sociedade Estudiosa (1862-1853), com sede na Rua dos Fanqueiros, 82. Foi dos membros mais activos da Associação Promotora da Indústria Fabril, fundada em 1837, génese da actual Associação Industrial Portuguesa, e que editava a Gazeta das Fábricas, tendo sede na rua da Boa Vista, perto do Instituto Industrial e Comercial de Lisboa.
Este instituto, fundado em 1852 por Fontes Pereira de Melo, e que está na génese do Instituto Superior Técnico e das escolas de Gestão, tinha uma oficina de instrumentos de precisão, para reparar e mesmo construir vários aparelhos, incluindo relógios. O objectivo era o abastecimento e manutenção desses aparelhos de precisão (incluindo cronómetros) a todos os estabelecimentos científicos do Estado. Veríssimo Alves Pereira foi seu Director Técnico.
Mas as actividades deste homem fascinante não terminariam por aí. Teve estabelecimento de instrumentos musicais na Baixa lisboeta, que fabricava. E até comercializava contadores de água, patente sua, que considerava muito superiores aos que Lisboa começava a importar de Inglaterra, no início da construção do sistema de abastecimento ao domicílio pela Companhia das Águas. Há um divertido folheto de Veríssimo Alves Pereira, de 1871, a explicar as virtudes do seu contador.
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