Falámos com ele, uma longa troca de impressões, onde descobrimos, por exemplo, que Cernan não acredita no aquecimento global provocado pela queima dos hidrocarbonetos ("trata-se de um tema da agenda política, há tantos argumentos sobre a sua existência por motivos humanos, como argumentos dizendo que se trata de um ciclo normal de aquecimento, como outros que já tem havido").
Deixamos aqui excertos dessa conversa, especialmente os que se relacionam com o Tempo, e como ele é vivivo por quem deixa o Tempo coordenado terrestre e vive outros tempos, outros ritmos...
Como astronauta teve o privilégio de viver noutro Tempo, já que viajou a velocidades muito elevadas. O que é o Tempo para si?
O tempo é a quarta dimensão, controla todas as nossas vidas. Mas sabemos muito pouco acerca dele. Sabemos que um momento que passou nunva voltará. Estamos presos ao tempo biológico, todos envelhecemos, não vamos mudar isso. Sim, teoricamente serei um pouco mais novo por ter viajado no espaço do que alguém da minha idade que não o tenha feito. É o que diz Einstein, e eu não vou contrariar Einstein. A velocidade que experimentei, não a senti, via-a, quando a Terra começa muito rapidamente a ficar cada vez mais pequena.
Quando chegamos à Lua, o nosso Tempo, aquele que na Terra é gerido pelo nascer e pelo pôr do sol, não faz sentido. Na Lua, são 40 dias de noite e 40 dias de luz. Estivemos lá em três dias de luz, e o Sol nunca se pôs. Todos os instrumentos que temos a bordo medem “tempo Delta”, ou seja, o tempo necessário para fazer uma determinada tarefa. Quando olhava para Terra e via o Sol no ocaso num determinado continente e a nascer noutro, ao mesmo tempo – uns a começarem o seu dia, outros a terminá-lo – tive sentimentos novos. Mas não explicáveis. Senti-me num local onde o Tempo, tal como o percebia até aí, não fazia sentido. Mas isso não quer dizer que tenha compreendido melhor o que é o Tempo, antes pelo contrário. Só lhe posso falar de distanciamento – em relação ao Tempo que os outros, na Terra, estavam a viver. Apenas um completo distanciamento.Vivendo na Lua, os terrestres terão que se adaptar a outro Tempo?
Muitas pessoas perguntam-me se tive o efeito de jet-lag quando fui até à Lua. Tenho jet-lag quando viajo até à Europa ou à Ásia, mas não tive qualquer efeito de jet-lag nas viagens espaciais que efectuei. Na lua, vivia o tempo de Houston. E, como lhe disse, regiamo-nos por “tempo delta”, necessário para uma tarefa específica. Tive dias de trabalho de 16 horas. Não nos interessava o tempo local lunar. Quando aterrámos, estivemos sempre acordados, quase um dia, sem sentir os efeitos do ritmo circadiano. Não consigo explicá-lo. Foi uma aventura que durou, ida e volta, 13 dias no tempo da Terra.
Há um certo contraste entre a alta tecnologia da NASA, toda ela baseada em computadores e circuitos integrados, e um relógio mecânico. Isso parece dar-nos uma janela da mente humana, não confiamos inteiramente na electronica… Qual a sua opinião?
Há um certo contraste entre a alta tecnologia da NASA, toda ela baseada em computadores e circuitos integrados, e um relógio mecânico. Isso parece dar-nos uma janela da mente humana, não confiamos inteiramente na electronica… Qual a sua opinião?
Há quanto tempo foi inventada a roda? Desde o início da Civilização. Foi alterada ao longo de milhares de anos? Não. A roda é mecânica, não digital. O simples é o melhor. Como precisamos de parâmetros baseados no tempo da Terra, é por isso que um relógio se torna tão importante. E um relógio mecânico, o Omega Speedmaster, foi o único que passou os testes da NASA. Este relógio tem rodas dentadas, engrenagens, testadas nos seus princípios desde há séculos. Sim, há o perigo de nos tornarmos demasiado dependentes da tecnologia. Digo sempre às pessoas – sejam simples, tornem as coisas simples.
A saga do Omega Speedmaster
É talvez o cronógrafo mais famoso do mundo. Desde logo, é o único relógio que se pode gabar de ter estado na Lua. O primeiro Omega Speedmaster foi produzido em 1957. A estética do mostrador era inspirada nos tabliers dos carros italianos da altura, com o branco e negro a funcionarem em contraste, para maior visibilidade. O primeiro modelo vinha equipado com um movimento Omega 321, também conhecido por Lémania. O nome “Speedmaster” derivava do taquímetro, a escala de medição de velocidade a partir de uma dada distância, que aparecia no bisel, a primeira vez que tal acontecia num relógio de pulso.
O primeiro Omega Speedmaster a atingir o espaço saiu da linha de produção em 1961 e foi usado pelo astronauta norte-americano Walter Schirra, de origem suíça. Ele tinha comprado o relógio para seu uso pessoal e levou-o em Outubro de 1962 para a missão “Sigma 7”, do programa Mercury. Schirra completou seis órbitas terrestres.
Por essa altura, a NASA começou a procurar um relógio de pulso “à prova do espaço”, com a função de cronógrafo e comprou num retalhista perto de Huston dez modelos de marcas diferentes. Em 1964, vários desses cronógrafos tinham sido eliminados e a NASA pediu às seis marcas que ficaram que fornecessem cada uma dez novos relógios para uma série de derradeiros e extraordinariamente exigentes testes – gravidade variável, exposição a temperaturas extremas, vazio, humidade intensa, corrosão, choque, aceleração, pressão, vibração e ruído.
O Omega Speedmaster foi o único relógio a sobreviver aos testes da NASA, e a 1 de Março de 1965 foi declarado “qualificado para voo da NASA para todas as missões espaciais tripuladas”. Virgil “Gus” Grisson e John Young, a tripulação do Gemini 3, a primeira missão tripulada Gemini, já levavam no pulso Speedmasters. Nesse mesmo ano, na missão Gemini 4, um Omega Speedmaster Professional acompanha Edward White no primeiro passeio norte-americano no espaço. O termo “Professional” foi acrescentado ao mostrador do Speedmaster em 1965 como referência aos profissionais da NASA, para quem o modelo se tinha tornado o relógio eleito. Em 1968, o Calibre 321 é substituído pelo Calibre 861, de alta-frequência, e isso continua a ser a única mudança significativa que o Speedmaster sofreu ao longo do seu meio século de vida. O Calibre 861, mais tarde rebaptizado 1861, continua hoje a ser usado.
Uma das histórias mais dramáticas envolvendo um Speedmaster e a missão espacial norte-americana ocorreu a 13 de Abril de 1970. Durante a missão Apollo 13, uma explosão danificou a principal fonte de energia, obrigando os astronautas a desligarem todos os instrumentos eléctricos com excepção do rádio, para conservarem energia para as manobras necessárias ao regresso da sua cápsula à Terra. A precisão era o elemento-chave no accionar no momento preciso os foguetes suplementares, para correcção da sua trajectória e a tripulação confiou nos seus Omega Speedmaster Professionals para iniciar e parar por 14 segundos precisos o queimar dos foguetes, permitindo-lhes fazer regressar a nave espacial avariada à Terra. “Houston, we have a problem”, a célebre frase dita a partir do espaço, teve afinal um desenlace feliz, também graças à fiabilidade de um relógio a quem a NASA, em reconhecimento, galardoou com o célebre Snoopy Award.O modelo comemorativo dos 40 anos da última presença humana na Lua.
O primeiro Omega Speedmaster a atingir o espaço saiu da linha de produção em 1961 e foi usado pelo astronauta norte-americano Walter Schirra, de origem suíça. Ele tinha comprado o relógio para seu uso pessoal e levou-o em Outubro de 1962 para a missão “Sigma 7”, do programa Mercury. Schirra completou seis órbitas terrestres.
Por essa altura, a NASA começou a procurar um relógio de pulso “à prova do espaço”, com a função de cronógrafo e comprou num retalhista perto de Huston dez modelos de marcas diferentes. Em 1964, vários desses cronógrafos tinham sido eliminados e a NASA pediu às seis marcas que ficaram que fornecessem cada uma dez novos relógios para uma série de derradeiros e extraordinariamente exigentes testes – gravidade variável, exposição a temperaturas extremas, vazio, humidade intensa, corrosão, choque, aceleração, pressão, vibração e ruído.
O Omega Speedmaster foi o único relógio a sobreviver aos testes da NASA, e a 1 de Março de 1965 foi declarado “qualificado para voo da NASA para todas as missões espaciais tripuladas”. Virgil “Gus” Grisson e John Young, a tripulação do Gemini 3, a primeira missão tripulada Gemini, já levavam no pulso Speedmasters. Nesse mesmo ano, na missão Gemini 4, um Omega Speedmaster Professional acompanha Edward White no primeiro passeio norte-americano no espaço. O termo “Professional” foi acrescentado ao mostrador do Speedmaster em 1965 como referência aos profissionais da NASA, para quem o modelo se tinha tornado o relógio eleito. Em 1968, o Calibre 321 é substituído pelo Calibre 861, de alta-frequência, e isso continua a ser a única mudança significativa que o Speedmaster sofreu ao longo do seu meio século de vida. O Calibre 861, mais tarde rebaptizado 1861, continua hoje a ser usado.
Uma das histórias mais dramáticas envolvendo um Speedmaster e a missão espacial norte-americana ocorreu a 13 de Abril de 1970. Durante a missão Apollo 13, uma explosão danificou a principal fonte de energia, obrigando os astronautas a desligarem todos os instrumentos eléctricos com excepção do rádio, para conservarem energia para as manobras necessárias ao regresso da sua cápsula à Terra. A precisão era o elemento-chave no accionar no momento preciso os foguetes suplementares, para correcção da sua trajectória e a tripulação confiou nos seus Omega Speedmaster Professionals para iniciar e parar por 14 segundos precisos o queimar dos foguetes, permitindo-lhes fazer regressar a nave espacial avariada à Terra. “Houston, we have a problem”, a célebre frase dita a partir do espaço, teve afinal um desenlace feliz, também graças à fiabilidade de um relógio a quem a NASA, em reconhecimento, galardoou com o célebre Snoopy Award.O modelo comemorativo dos 40 anos da última presença humana na Lua.
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