A arte da Piaget - reportagem no Fora de Série Especial Relógios 2013:
Entre prados e florestas, a alta relojoaria
Extra-planos, ultra-complicados
Fernando Correia de Oliveira, em La Côte-aux-Fées
Poucas manufacturas conseguem ter um ADN tão claro, reconhecível pelos apreciadores. Com um pé na mais exigente micromecânica e outro na mais elaborada das decorações, a Piaget consegue, mesmo assim, a simplicidade. Com produção limitada, exclusiva.
São uns escassos 13 quilómetros quadrados, dos quais 56 por cento estão dedicados à agricultura e 41 por cento à floresta. Os restantes 3 por cento, onde se incluem ainda lagos e rios, são habitados por 500 pessoas. Destas, 93,8 por cento têm como primeira língua o francês. O alemão é a segunda língua mais falada e o português a terceira. Benvindo a La Côte-aux-Fées, município do distrito de Val-de-Travers, bem no coração das montanhas do Jura, cantão de Neuchâtel, Suíça.
Foi em La Côte-aux-Fées que, Georges Piaget fundou em 1874 a sua manufactura de calibres de alta qualidade, com que começou a abastecer as melhores marcas helvéticas. Apenas em 1943 a marca Piaget é registada, passando a partir daí a, além de continuar a fornecer calibres a terceiros, vender relógios sob o seu próprio nome. Yves Piaget, descendente directo do fundador, dirige a explosão de criatividade estética nos anos 70 e 80, com figuras públicas como Jackie Kennedy, Gina Lollobrigida ou Andy Warhol a ostentarem peças da manufactura, que já então era o epítome do relógio-jóia.
A partir de 1988, a Piaget passa a fazer parte do grupo Vendôme, hoje Richemont. Mas a tradição de movimentos complicados, altamente decorados, esqueletizados ou extra-planos continua. E Yves Piaget continua na marca, agora como que espécie de memória histórica e embaixador itinerante.
E, apesar de a sede da Piaget ser hoje em Genebra (onde situa a sua unidade de produção mais importante, em Plan-les-Ouates), as raízes históricas permanecem em La Côte-aux-Fées (a primeira vez que o nome aparece referido é em 1337, grafando-se então como La Costa des Faies – colina dos carneiros). O brazão da localidade é um carneiro prateado em fundo verde.
É neste ambiente bucólico que a Piaget mantém as suas instalações primitivas, hoje destinadas apenas à montagem de algumas centenas de grandes complicações que produz por ano e a alguns milhares de caixas e movimentos que decora. Pessoal altamente especializado, entre gravadores, douradores, esmaltadores. Muitos deles portugueses. E a comunidade lusa tem aumentado nos últimos tempos, devido à crise mais a sul…
No sótão do edifício histórico, a Piaget mantém os ateliers de dois ou três mestres relojoeiros, na tradicional arquitectura de há séculos, com as bancadas a receberem a luz natural através de janelas nos telhados, suportados por vigas de madeira. Aqui, cada relógio é montado de fio a pavio por um só relojoeiro, que o afina. Nos andares inferiores, outros especialistas escavam, esculpem, decoram as peças que irão formar um turbilhão, um calendário perpétuo, um repetição minutos, uma sonnerie.
A Piaget trabalha apenas metais preciosos – ouro ou platina. E tem os recordes de várias categorias de relógios extra-planos.
Nesta visita aos ateliers de La Côte-aux-Fées tivemos ocasião de contactar muitos operários portugueses (o chefe de produção de caixas, por exemplo, é de Castro Verde). E de ver as mais recentes estrelas da constelação da manufactura. Como o Piaget Altiplano Date, equipado com o calibre 1205P, o automático mais fino do mundo, com apenas 3 mm, de espessura. Ou o Piaget Altiplano Esqueleto, com o calibre automático 1200D e diamantes nas platinas e pontes, uma estreia mundial. Saberes exclusivos da Piaget, que consegue como poucos aliar o mundo da alta relojoaria com o da alta joalharia.
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