Há 200 anos - Os deputados a olharem para o relógio ou as horas do Congresso, 1823

Eu já disse que só pela importância dos negocios he qU ■ elles devem ter perferencia neste Congresso: e porque hum objecto póde ser urgente , outro rnais urgente , e urgentíssimo outro , nunca se lhe póde marcar preferencia absolutamente, e só em relação a outros já enunciados , ou que de novo forem apre­sentados. E ha de então pôr-se hum cadeado nosla- bi os do Deputado, para que não falle, senão em certo dia e hora, ainda que elle tenha a ennuneiar negocio talvez urgentissimo ! Isto Sr. Presidente não he ordem, he desordem. Repito pois que seja li­cito á qualquer Deputado fazer indicações no espa­ço de meia hora em todos os dias maxima sobre os objectos que já apontei líu a a Indicação : compete ao Congresso decidir se he urgente ; mas não seja arriscado o bem da Nação ou o de hum particular pela ineptidão de hum formulário. Não se diga que a multiplicidade das indicações gastará o tempo; e que já n-.s Cortes passadas o gastara. A isso res­pondo, que essa cancella de 4 horas, que fecha o limitte dus Sesjões , deve ser despedaçada quando o bt m publico o exige ; se não bastão 4 horas pa­ra huma discussão ou para muitas deurgencia, se­ja permanente a Sessão , gastem-se 6 , 8 ou todo o diá e noute neste recinto, aonde a Nação nos col- lecou para empregarmos o tempo, asaude, e a vi- da-em lhe promover todos os bens: não mostremos ver- • goahosa indifferença cortando., e deixando em de­mora ou adiamen&o os negocios urgentes mal que o relogio pronuncia as horas. Todas estas propozi- ções, peço a V. Ex.a sejão postas á deliberação da Assembléa.

Intervenção do militar e deputado Fonseca Rangel, Diário do Governo, n.º 13, de 15/01/1823 (Arquivo Fernando Correia de Oliveira