“Como o tempo passa!” dizem as pessoas mais experientes. “Não dá tempo para nada!” E você, acredita que o tempo significa só o tempo de relógio? Venha comigo.
Conhece aquela parlenda trava-línguas do folclore brasileiro, aprendida, talvez, na sua infância, que diz: “O tempo perguntou pro tempo quanto tempo o tempo tem. O tempo respondeu pro tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem”.
Mas... e quanto tempo o tempo tem? Veja a afirmação do autor do Eclesiastes, 3,1: “[...] entendi que tudo tem seu tempo e sua hora debaixo do céu” Mas fala também que Deus “colocou a eternidade no coração das pessoas”. A eternidade em nosso coração? Como assim?
Criatividade de tempo: Eu penso que o tempo é tão criativo que gosta de fazer surpresas. Ou é você que, de repente, por algum motivo, entra num tempo diferente e muda tudo, inova tudo, troca tudo e vai sendo mais feliz do que era quando apenas entendia que o tempo era estável! Por que? Não é estável? – Você me pergunta.
Ora essa criatividade para fazer do tempo novas surpresas depende de cada pessoa. O filósofo francês Henri Bergson diz, por exemplo, que aquele tempo do relógio não faz parte da essência do tempo, por dividir o antes, o agora e o depois. Assim, a partir deste ponto de vista, o tempo seria uma imposição. Então, como fugir dessa imposição do tempo?
Vou contar breve experiência. Passei por uma cirurgia de retirada de vesícula no dia 10 de janeiro de 2022, sétima cirurgia da minha vida. Até ali tudo bem. Mas, enquanto, na sala cirúrgica, na maca, os anestesistas e enfermeira se preparavam para suas funções, eu senti fortemente como o tempo de relógio não é nada, pois, naquele momento, eu conseguia fazer com que o tempo se multiplicasse em centenas de formas e melodias, superando aqueles minutos de espera no âmbito do tempo de relógio.
Eu sabia que havia um jeito de driblar o tempo. Explico. Quando, dia antes estive em consulta com o médico anestesista, no final ele disse: “... Agora é só aguardar o dia chegar e escolher o sonho que vai querer sonhar...”. Na hora achei engraçado, mas como gosto de me desafiar para entender melhor, fiquei querendo levar a sério pensando que eu queria experienciar melodias diversas em músicas que tivessem sentido para mim.
E quando o anestesista foi falando “respire”, “respire”... eu pensei em flores, mas também nas músicas de violino do meu pai na infância, e me apaguei... Mais tarde, já no quarto, refleti que eu posso me desgrudar da “imposição do tempo”, apesar de estar no tempo.
Mensagem para você. Tente ler livros que incentivem a refletir, a criar seus próprios conceitos. Você pode criar alguma coisa, “apenas” para viver a emoção, ou seja, por entender que o tempo se cria e recria através do que vive em você, e vai garantindo alguma forma de eternidade para o seu coração.Inspire-se no poeta Carlos Drummond de Andrade, que sintetiza o tempo interior do amor e da arte, na poesia “O tempo passa? Não passa”:
“... Não há tempo consumido / nem tempo a economizar.
O tempo é todo vestido /de amor e tempo de amar”.
Zélia Maria Bonamigo, jornalista e antropóloga social.
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