A hora legal mudou no passado sábado. Para a do Inverno, agora harmonizada com a regra europeia de ser só em Outubro e não, como antes, em Setembro. A hora legal de Portugal continental coincide, agora, com o tempo universal coordenado.
Ao que presumo, a maioria das pessoas gosta mais da hora de Verão. Eu confesso gostar mais da hora que mais perto está da verdade. Ou seja, em que mais se aproximam o meio-dia que temos no relógio e o meio-dia solar ou verdadeiro (o momento da passagem do Sol pelo meridiano local). Exactamente o período do ano em que a natureza mais conforme está com a norma, porque a diferença entre o meio-dia solar só se afasta do meio-dia oficial cerca de 30 minutos. Talvez por isso, o tempo em que, em boa verdade, andamos mais a horas. E, assim, nos vamos aproximando do dia que marca o solstício do Inverno, em que a noite é rainha e o dia é filho bastardo.
Na hora de Inverno, o dia, embora do mesmo tempo, torna-se mais exíguo, porque mais comprimido no tempo da nossa vida. A noite, essa alarga-se na penumbra do nosso repouso. Os noctívagos vivem na ilusão de mais tempo e os que trabalham de sol a sol continuam a fazê-lo tal qual antes, apenas com a ilusão formal de se levantarem uma hora mais cedo no seu relógio.
Na década de 90 do século passado, uma ideia peregrina tomou assento no Diário da República. Chegámos, durante quatro anos, a ter uma hora oficial igual a Bruxelas, Paris, Berlim. Uns poucos anos mais tarde, tão rapidamente quanto entrou nos nossos hábitos, tão solícita foi a sair dos nossos mostradores.
Foi um crono-disparate, contra-natura. O que significava? No pico do Verão era como se, geograficamente, Portugal estivesse num meridiano imaginário entre São Petersburgo, Kiev e Istambul, que é como quem diz, cerca de duas horas e quarenta minutos desviado para leste. Resultado: no Verão as crianças iam para a cama de dia, mesmo que às vinte e duas horas, e no dia em que o Inverno começava, o sol nascia às nove horas, e as pessoas iam para o trabalho e as crianças para a escola ainda com a noite cerrada.
Por essa altura, só a Irlanda e o sempre renitente Reino Unido não foram em cantigas de zelo europeu e não aderiram ao TUB (Tempo Único de Bruxelas). E por que razão haveria o Cabo da Roca, ponto mais ocidental da Europa Continental, de aderir ao TUB? Disse-se na altura que ter a mesma hora de Bruxelas facilitava os contactos com as instituições europeias e com os escritórios de advocacia lá implantados. Foi uma tentativa de um euro, não monetário, mas horário. Fracassou, mesmo sem um “Schauble da astronomia / meteorologia”.
Tenho lido com interesse a análise de especialistas na área da saúde sobre eventuais efeitos desta mudança para a agora hora oficial. Fala-se em dores de cabeça, designadamente a cefaleia em salvas (quer dizer, de um só lado da cabeça), presumo que em lados opostos em função da mudança em Outubro e em Março, de alterações do ritmo cardíaco, etc. Este pseudo jet lag de uma hora, sem andar de jacto, tem também originado interessantes discussões quanto à questão da segurança nas ruas, risco de acidentes rodoviários, poupança ou não de energia eléctrica, etc..
Cá por mim, prefiro o primado da hora verdadeira do que o abastardamento desta por via administrativa. Ou seja, quanto mais perto a hora que temos no pulso estiver da hora que é, tanto melhor. Sou um purista e ecologista da hora.
Mas, como gostos não se discutem, lá teremos para uns, (h)ora bolas, para outros, andar às horas.
António Bagão Félix, artigo publicado em 2016
domingo, 29 de outubro de 2017
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