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sábado, 14 de outubro de 2017

Roger Dubuis - (1938 - 2017) - um mestre relojoeiro que teve um amigo português...


Há 22 anos, num dos nossos primeiros Salões de Alta Relojoaria, em Genebra, dávamos uma volta pelos espaços das marcas, antes da abertura oficial do evento. Em mangas de camisa, de martelo na mão, um homem procedia com grande afã aos últimos retoques no espaço da Roger Dubuis. Ouvindo-nos falar, disparou - "São portugueses?". Pois ele era o Carlos Dias, dono da marca. "E aquele ali", disse apontando para um homem mais velho, de fato e gravata, encostado a uma das paredes da entrada do stand, "aquele ali é o meu amigo Roger Dubuis".

Foi assim que conhecemos, de uma só vez, o português Carlos Dias e o suíço Roger Dubuis, mestre-relojoeiro que já tinha décadas de experiência em Alta Relojoaria, nomeadamente quando trabalhou na Patek Philippe.

Acabamos de saber que Roger Dubuis faleceu hoje, aos 79 anos.

O mestre relojoeiro Roger Dubuis, amigo do português Carlos Dias, emprestou o seu nome para que, em 1995, o segundo fundasse uma manufactura de Alta Relojoaria. Dez anos depois, Roger Dubuis deixou a empresa, em rota de colisão com Carlos Dias. E dedicou-se a produzir relógios especiais e de produção muito limitada, com outros mestres relojoeiros. Em 2011, a manufactura, entretanto adquirida pelo Richemont Group, anunciou que Roger Dubuis regressava à Roger Dubuis.

A marca Roger Dubuis está presente no mercado português desde 2002. Veja mais aqui, aquiaqui.

Durante o Salão Internacional de Alta Relojoaria de Genebra 2015 falámos pela última vez com o mestre relojoeiro Roger Dubuis. Disso demos conta no Relógios & Canetas online de Março desse ano.

Curvamo-nos perante uma personalidade discreta, cordial, mas cheia de saber.


A 100 por cento Poinçon de Genève e COSC

O testemunho de Roger Dubuis

Fernando Correia de Oliveira, em Genebra

Fundada em 1995, a Roger Dubuis distingue-se pelo facto de toda a sua produção ter o selo de qualidade Poinçon de Genève e ser certificada a 100 por cento pelo COSC. No Salão Internacional de Alta Relojoaria de Genebra 2015 falámos com o mestre relojoeiro Roger-Dubuis, co-fundador da marca, juntamente com o português Carlos Dias.

Roger Dubuis fundou um atelier de criação relojoeira em 1980, depois de ter trabalhado 14 anos na Patek Philippe, onde desenvolveu uma série de complicações. Teve, nesses anos, como clientes, grandes marcas de alta relojoaria. Há 20 anos, foi desafiado pelo amigo e investidor Carlos Dias a criar uma marca com o seu nome. Carlos Dias, que esteve por detrás do arranque da Franck Muller, onde desenhou muitos modelos, conseguiu fazer em poucos anos da Roger Dubuis uma marca especial, muito baseada na sua imaginação estética e na verticalização, com os calibres a serem fabricados in house, incluindo os espirais.

Figura controversa, Carlos Dias era uma espécie de “corpo estranho” entre as famílias de dinheiro velho ou os grandes grupos que controlam a relojoaria suíça. Roger Dubuis reformou-se em 2004, saindo desentendido com o seu sócio português e abdicando do próprio nome enquanto marca. Em 2008, e com a crise financeira como horizonte, Carlos Dias vende a Roger Dubuis ao Richemojt Group. No final de 2011, Roger Dubuis é chamado a regressar à marca com seu nome, sendo hoje um dos seus embaixadores e consultores, passando muito do seu tempo em viagens pelo mundo, explicando o espírito da marca que, além de ser 100 por cento Poinçon de Genève é, desde 2012, totalmente certificada cronometricamente COSC. Da conserva com mestre Roger Dubuis retemos as seguintes afirmações:

Quando começámos com a produção caucionada pelo selo de qualidade Poinçon de Genève ele não tinha a notoriedade e importância que tem hoje. Isso foi uma promoção para a Roger Dubuis, mas funcionou igualmente como promoção do próprio selo, que desde sempre tem feito parte da nossa estratégia global de comunicação. Quando me reformei, em 2004, as bases da estratégia estavam montadas, mas ainda não se tinham consolidado.

O facto de a Patek Philippe ter decidido abandonar essa homologação e criar a sua própria facilitou-nos a vida. Foi a consagração – somos conhecidos por uma produção 100 por cento Poinçon de Genève e temos cada vez menos concorrência… (risos).

Sou um relojoeiro da escola genebrina. Formei-me em Genebra, sempre fiz relógios Poinçon de Genève. É impossível para mim fazer outra coisa.

Temos, desde o início, a base em valores tradicionais. Mas com os olhos postos no futuro. E um sentido criativo de toda a equipa que tem sido extraordinário.

Apesar das mudanças de direcção, desde a fundação, com Carlos Dias, até hoje, no seio do Richemont Group, o DNA da marca tem-se mantido, com uma evolução natural e sem sobressaltos. Compreendeu-se que a Roger Dubuis conseguiu um nicho muito especial, que seria lamentável perder.

Os primeiros relógios da chamada escola conceptual chocaram-me, devo confessar. Tudo começou com os calibres de quartzo, que deram a possibilidade de leituras digitais e analógico-digitais. Uma nova geração de relojoeiros conseguiu, depois, criar novas arquitecturas, mecânicas, de leitura do tempo. Rendi-me (risos). Vi que o futuro também passa por aí. E que um relógio pode indicar outras coisas para além das horas.

Já percorremos todas as grandes complicações – turbilhão, multi-turbilhão, calendário perpétuo, repetição minutos… Temos que ter muito cuidado para escolher bem o que queremos indicar, para além disso.

Dantes, era muito mais pelo “puro mecânico”, hoje estou aberto às possibilidades que as novas tecnologias oferecem, como as ligações de um relógio a redes de co0municação. Mas isso será para uma nova geração de relojoeiros explorar… (risos). Não tenho nada contra isso, é a evolução dos tempos que dita a transformação.

Mesmo no puramente mecânico, ao longo de toda a minha vida tenho sido surpreendido. Julga-se que já tudo foi inventado e todos os anos há quem demonstre que há ainda algo por melhorar ou fazer de maneira diferente. É esse um dos encantos da relojoaria. Os progressos tecnológicos têm vindo sempre em auxílio das ideias dos criadores, por mais ousadas que sejam.

Durante toda a minha vida, estive sempre “uma ou duas máquinas atrasado” (risos). Quando me familiarizo com uma nova máquina, ela desaparece para dar lugar a outra geração.

A complicação sobre a qual mais trabalhei ao longo da vida foi o calendário perpétuo. É muito difícil, tudo se baseia numa relação de equilíbrio de molas, que têm que funcionar independentemente de choques ou mudanças de temperatura. Naturalmente, é a que mais admiro. Mas um repetição minutos é uma realização extraordinária. Quando está acabado, não mente: soa e diz da sua perfeição.


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