Razão tinha Luís de Camões quando escreveu num seu soneto:
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”
Nestes versos retrata-se uma outra seta do tempo, a seta do tempo do indivíduo (o tempo psicológico, o tempo percepcionado pela consciência), que está relacionado com o tempo da sociedade (o tempo sociológico, o tempo da história humana). Os tempos percepcionados são subjectivos, ao contrário do tempo físico, medido pelos relógios e, no caso de haver mudança, pela variação de entropia. Estes tempos psicológico e sociológico são aqueles que a arte, neste caso a literatura, descreve bem melhor do que a ciência. É muito claro hoje que nem tudo pode ser visto pelo prisma da ciência. Mas, usando o prisma da ciência, muito ainda pode ser visto.
Carlos Fiolhais
quinta-feira, 28 de abril de 2016
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2 comentários:
Bom dia.
No âmbito da reflexão sobre o conceito de tempo sugiro-lhe «O Aroma do Tempo, ensaio filosófico sobre a arte da demora» de Byung-Chul Han.
O Aroma do Tempo, de Byung-Chul Han (trad. de Miguel Serras Pereira)
Byung-Chul Han continua neste livro a sua abordagem filosófica de processos marcantes da sociedade atual, neste caso daquilo que considera ser uma crise temporal.
«Segundo o autor germano-coreano, não estamos perante uma aceleração do tempo, mas sim de uma atomização e dispersão temporal, de uma dissincronia. É isso que faz com que qualquer instante pareça igual a outro e não exista nem um ritmo, nem um rumo, que confira significado às nossas vidas.
Numa constatação que tem que ver com as conceções de Zygmunt Bauman sobre a atual «sociedade líquida», Byung-Chul Han diz que tudo é vivido como efémero, sensação essa em que nós próprios estamos incluídos. É assim que a morte surge como um instante mais, prematuro e quase sempre sem sentido.
Tal como nas suas obras anteriores, de A Sociedade do Cansaço até A Agonia de Eros, aborda as causas dessa evolução e reflete sobre a possibilidade de a inverter. Para o filósofo, o final do tempo como duração narrativa não teria de implicar um vazio temporal. Existe, pelo contrário, agora a possibilidade de uma vida que prescinda da teologia e da teleologia e que apesar disso tenha um aroma próprio. Para isso seria necessário recuperar conceitos de Hannah Arendt, pois a crise temporal só poderá ser ultrapassada quando a vita activa acolher de novo a vita contemplativa.»
(Relógio d'Água)
Obrigado pela dica, caro António Faceira. Vou comprar ;-)
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