Poder-se-á pensar que a mecânica quântica, que descreve o mundo microscópico, poderia resolver o problema [da seta do tempo]. Mas não resolve, porque a equação da dinâmica quântica – a equação de Schroedinger dependente do tempo – é, tal como na Segunda Lei de Newton, perfeitamente reversível no tempo. Apesar de as probabilidades serem necessárias para interpretar fisicamente o estado do sistema, essas probabilidades não são probabilidades que na Física Estatística, devidas à complexidade de um sistema macroscópico, mas são, ou pelo menos parecem ser, fundamentais. A Física Quântica em certo sentido já é estatística, mas pode-se formular uma Física Estatística Quântica, colocando probabilidades “por cima” de probabilidades. Isto é, numa linguagem mais física, em Física Estatística Quântica considera-se um “estado de mistura”, no qual incorporamos o nosso desconhecimento termodinâmico, mas cada um dos estados misturados já tem incorporado um desconhecimento quântico (“Deus joga aos dados”). De qualquer modo, há uma irreversibilidade intrínseca que já está presente nos postulados na mecânica quântica: quando um observador mede uma certa grandeza observável, dá-se uma alteração radical no estado do sistema, que se chama colapso da função de onda. Há um antes e um depois da medida, mas poderemos sempre dizer que houve um certo tipo de intervenção exterior e não foi um acto espontâneo do sistema. A moderna teoria da “decoerência” parece indicar que este colapso da função de onda é um caso particular da Segunda lei da Termodinâmica e não se está a bem a ver como é que um caso particular pode ser uma explicação geral.
Carlos Fiolhais
quarta-feira, 20 de abril de 2016
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