Para os Antigos, o movimento real e aparente dos astros serviu para medir e marcar o tempo e todos os calendários têm uma base astronómica. Era de tal forma previsível, perfeito, o bailado de estrelas, planetas e cometas, que se falava em Suprema Harmonia e se dizia que Deus era como que o Grande Relojoeiro, inventor e guardião da Mecânica Celeste.
Mas, por mais regular que pareça aos olhos dos humanos, e por melhor que tenha servido durante milénios ao seu dia-a-dia, sabe-se desde finais do século XVIII que essa mecânica celeste não é assim tão exacta. O Homem apercebeu-se das ligeiras discrepâncias nos ritmos astrais quando se muniu de medidores de tempo mais exactos do que eles – relógios de pêndulo muito sensíveis, termicamente compensados, os chamados reguladores, primeiro; os relógios eléctricos e depois atómicos, a seguir.
Assim, o Tempo do Homem passou a ser mais perfeito que os tempos dos Deuses.
Desde a Conferência de Washington, de 1884, que o Meridiano de Greenwich é o meridiano zero e desde essa altura que se foi globalizando o conceito de Greenwich Mean Time (Tempo Médio de Greenwich, GMT, ou TMG em português), o tempo de referência para todo o mundo, com o seu sistema de fusos horários, de 15 graus cada, 7,5 graus para cada lado do respectivo meridiano, e num total de 24.
Com o aparecimento dos relógios atómicos, em meados do século XX, chegou-se a uma definição muito mais exacta de Segundo, Hora, Dia, Ano e, num salto qualitativo, o Tempo deixou de ter a sua tradicional base astronómica, para passar a ser um assunto de laboratório.
Surge assim, em 1972, a nova noção de Tempo Universal Coordenado (Universal Time Coordinated, UTC), a partir de um Segundo padrão (definido em 1967) que já não era achado mediante a divisão da rotação da Terra, mas através de uma determinada frequência emitida por um cristal de césio.
O movimento da Terra sobre o seu eixo tem vindo a diminuir de velocidade ao longo da sua vida – o dia há milhões de anos era mais curto do que é hoje – e sofre outras irregularidades. Por outras palavras, o UTC começou a ganhar terreno ao GMT.
Mas, de tão perfeito que é, o UTC, puramente físico, tem que ser “acertado” regularmente em relação ao tempo astronómico em que continuamos a viver. Está convencionado que haverá um acrescento de um segundo ao UTC sempre que este tempo divirja mais do que 0,9 segundos do GMT (mais precisamente em relação ao Tempo Atómico Internacional, começado a contar em 1958, ininterruptamente, por uma rede de relógios atómicos). Foi por isso que 2005 teve um segundo a mais, acrescentado no final do ano.
Em termos de relojoaria, também o conceito GMT tem persistido em relação ao novo UTC e diz-se que um relógio tem função GMT quando indica, além do tempo principal, um ou mais tempos secundários, muito útil para quem está longe de casa, noutro fuso horário.
*Crónica de A Máquina do Tempo (22.06.07), no Casual, Semanário Económico
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