Diz-se que os velhos só têm o presente, o que não está longe da verdade. Não têm passado nem futuro. O passado, como sucede com toda a gente, já passou. Uns mais do que outros, podem guardá-lo na memória e é tudo o que dele lhes resta. Quanto ao tempo que os espera, a imprevisibilidade da sua dimensão e a certeza, dia após dia sentida, da diminuição progressiva das suas capacidades, rouba-lhes a ideia de futuro. Não lhes permite fazer planos. Vivem, como também se ouve dizer, “um dia de cada vez”.
É nesta tranquila certeza que, nos meus muitos anos já
vividos, organizo as 24 horas do dia, de todos os dias. O corpo está cansado,
por vezes muito cansado, mas a mente nunca esteve tão activa. Já o disse aqui e
volto a dizer que, nas muitas horas em que estou sentado, frente ao monitor, a
dedilhar, letra a letra, procurando acompanhar o pensamento, não tenho idade
nem os muitos problemas de saúde próprios dos gerontes. Vem-me ao de cima a
alegria, a ingenuidade e a curiosidade da criança que fui, a ousadia, a
irreverência, a insatisfação e a generosidade da adolescência, a energia, a
determinação e a persistência dos meus anos de adulto no activo. A tudo isto
adiciono a ponderação, a paciência e a bonomia dos velhos.
Mas a verdade é que o meu horizonte de vida é pequeno para o
muito que tenho em mãos e tudo o que ainda me proponho cumprir, e nesse muito
está, por um lado, continuar a escrever sobre o que a vida e a profissão me
ensinaram e, por outro, continuar a exercer o que entendo ser o meu dever de
cidadania.
E aqui estou, entre outras acções cívicas que abraço, ao
lado dos Professores.
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