Perder tempo comporta uma estética. Há, para os subtis nas sensações, um formulário da inércia que inclui receitas para todas as formas de lucidez.
A estratégia com que se luta com a noção das conveniências
sociais, com os impulsos dos instintos, com as solicitações do sentimento exige
um estudo que qualquer mero esteta não suporta fazer. A uma acurada etiologia
dos escrúpulos deve seguir-se uma diagnose irónica das subserviências à
normalidade. Há a cultivar, também, a agilidade contra as intrusões da vida; um
cuidado deve couraçar-nos contra sentir as opiniões alheias, e uma mole
indiferença encamar-nos a alma contra os golpes surdos da coexistência com os
outros.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
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