Paisagem de chuva
Em cada pingo de chuva a minha vida falhada chora na
natureza. Há qualquer coisa do meu desassossego no gota a gota, na bátega a
bátega com que a tristeza do dia se destorna inutilmente por sobre a terra.
Chove tanto, tanto. A minha alma é húmida de ouvi-lo.
Tanto... A minha carne é líquida e aquosa em torno à minha sensação dela.
Um frio desassossegado põe mãos gélidas em torno ao meu
pobre coração.
As horas cinzentas alongam-se, emplaniciam-se no tempo; os
momentos arrastam-se.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
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