Na revolução francesa muitos começaram a disparar contra os relógios.
Levanto-me da cadeira, tomo banho.
Um tiro na nuca de um relógio.
Um tiro no rosto de um relógio.
Jeri, a golden, tem olhos melancólicos.
Roma, a pastora belga, tem olhos estupefactos.
Está sempre espantada.
Sol lá fora.
"Não se esqueça de acertar os relógios. A hora muda já
este domingo."
Os homens na rua têm agora olhos estupefactos.
Estamos todos espantados.
Imagino funcionários de um governo a começarem a disparar
sobre os relógios públicos.
Uma bala em cheio para travar o tempo.
Como se o tempo fosse o animal a caçar.
"Maracanã vai converter-se em hospital para acolher
doentes."
EUA 116, Alemanha 33, Portugal 17, Inglaterra 115.
Uma amiga ao telefone diz-me: preciso de disparar em alguém.
Falo-lhe da história dos relógios.
A geração dos humanos com os olhos estupefactos.
Uma nova geração dos humanos.
Os humanos espantados.
O século XXI partido em dois por um vírus.
Dois séculos tem este século.
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