Mar. Manhã
Suavemente grande avança
Cheia de sol a onda do mar;
Pausadamente se balança,
E desce como a descansar.
Tão lenta e longa que parece
De uma criança de Titã
O glauco, seio que adormece,
Arfando à brisa da manhã.
Parece ser um ente apenas
Este correr da onda do mar,
Como uma cobra que em serenas
Dobras se alongue a colear.
Unido e vasto e interminável
No são sossego azul do sol,
Arfa com um mover-se estável
O oceano ébrio de arrebol.
E a minha sensação é nula,
Quer de prazer, quer de pesar
Ébria de alheia a mim ondula
Na onda lúcida do mar.
Fernando Pessoa
domingo, 31 de agosto de 2014
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1 comentário:
Para as ondas comparar
às dobras de um serpente,
Pessoa... devia estar
enfrascado de aguardente
da mais reles qualidade
que se vende na cidade!
JCN
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