Mar. Manhã
Suavemente grande avança
Cheia de sol a onda do mar;
Pausadamente se balança,
E desce como a descansar.
Tão lenta e longa que parece
De uma criança de Titã
O glauco, seio que adormece,
Arfando à brisa da manhã.
Parece ser um ente apenas
Este correr da onda do mar,
Como uma cobra que em serenas
Dobras se alongue a colear.
Unido e vasto e interminável
No são sossego azul do sol,
Arfa com um mover-se estável
O oceano ébrio de arrebol.
E a minha sensação é nula,
Quer de prazer, quer de pesar
Ébria de alheia a mim ondula
Na onda lúcida do mar.
Fernando Pessoa
Para as ondas comparar
ResponderEliminaràs dobras de um serpente,
Pessoa... devia estar
enfrascado de aguardente
da mais reles qualidade
que se vende na cidade!
JCN