Tristêza
O sol do outomno, as folhas a cair,
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lagrimas, beijando
A terra, e o meu espirito a sorrir...
Eis como a minha vida vae passando
Em frente ao seu Phantasma... E fico a ouvir
Silencios da minh'alma e o resurgir
De mortos que me fôram sepultando...
E fico mudo, extatico, parado
E quasi sem sentidos, mergulhando
Na minha viva e funda intimidade...
Só a longinqua estrela em mim actua...
Sou rocha harmoniosa á luz da lua,
Petreficada esphinge de saudade...
Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias'
domingo, 22 de setembro de 2013
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3 comentários:
*
Ouvir chorar a pedra
Ouvir chorar a pedra é como ouvir
cantar estrelas pela noite além:
apenas o Poeta e mais ninguém
possui a faculdade de as sentir.
Só ele escuta o choro do granito
baixinho no deserto a desfazer-se
em grãos de areia até desvanecer-se
e regressar em alma… ao infinito.
Desde o mais trivial ao mais egrégio,
Deus ao Poeta deu o privilégio
de ouvir o pó da terra a conversar.
Tenho por isso às vezes, meu amor,
a doce sensação de te escutar
no sítio em que repousas no Senhor!
João de Castro Nunes
*
Pó de estrela
No rasto de Teixeira de Pascoaes
Fruto de milenária evolução
e de matéria orgânica formado,
antes porém do meu presente estado
fui luz de virtual constelação.
Vim das galáxias, sabe-se lá quando:
talvez já fosse pedra, lama ou flor
que em espiral se foram transformando
por obra do Supremo Criador!
Bicho da terra, como diz Camões,
matéria vil de vísceras e ossos,
sujeita a toda a casta de emoções,
ufano-me de ser, em todo o caso,
entre montões de cósmicos destroços,
o pó de alguma estrela… em seu ocaso!
João de Castro Nunes
*
“Sicut aquila volans”
Quisera ser uma águia soberana
de asas possantes, fortes, resistentes,
para voar por cima das vertentes
em que rasteja a criatura humana!
Quisera ser uma águia sobranceira
de acutilante e penetrante olhar
para do céu diáfano enxergar
na sua vera essência a terra inteira!
Quisera, Pascoaes, ter o teu génio,
o teu talento, ó “Águia do Marão”,
por obra de metáfora ou convénio!
Quisera, como tu, perto dos astros
voar, pensar, sem nunca estar de rastros
ante o poder… em plena solidão!
João de Castro Nunes
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