domingo, 22 de setembro de 2013

Meditações - rocha harmoniosa à luz da lua

Tristêza

O sol do outomno, as folhas a cair,
A minha voz baixinho soluçando,
Os meus olhos, em lagrimas, beijando
A terra, e o meu espirito a sorrir...

Eis como a minha vida vae passando
Em frente ao seu Phantasma... E fico a ouvir
Silencios da minh'alma e o resurgir
De mortos que me fôram sepultando...

E fico mudo, extatico, parado
E quasi sem sentidos, mergulhando
Na minha viva e funda intimidade...

Só a longinqua estrela em mim actua...
Sou rocha harmoniosa á luz da lua,
Petreficada esphinge de saudade...

Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias'

3 comentários:

  1. *








    Ouvir chorar a pedra




    Ouvir chorar a pedra é como ouvir
    cantar estrelas pela noite além:
    apenas o Poeta e mais ninguém
    possui a faculdade de as sentir.


    Só ele escuta o choro do granito
    baixinho no deserto a desfazer-se
    em grãos de areia até desvanecer-se
    e regressar em alma… ao infinito.


    Desde o mais trivial ao mais egrégio,
    Deus ao Poeta deu o privilégio
    de ouvir o pó da terra a conversar.


    Tenho por isso às vezes, meu amor,
    a doce sensação de te escutar
    no sítio em que repousas no Senhor!


    João de Castro Nunes

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  2. *





    Pó de estrela

    No rasto de Teixeira de Pascoaes

    Fruto de milenária evolução
    e de matéria orgânica formado,
    antes porém do meu presente estado
    fui luz de virtual constelação.


    Vim das galáxias, sabe-se lá quando:
    talvez já fosse pedra, lama ou flor
    que em espiral se foram transformando
    por obra do Supremo Criador!


    Bicho da terra, como diz Camões,
    matéria vil de vísceras e ossos,
    sujeita a toda a casta de emoções,


    ufano-me de ser, em todo o caso,
    entre montões de cósmicos destroços,
    o pó de alguma estrela… em seu ocaso!


    João de Castro Nunes

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  3. *




    “Sicut aquila volans”




    Quisera ser uma águia soberana
    de asas possantes, fortes, resistentes,
    para voar por cima das vertentes
    em que rasteja a criatura humana!


    Quisera ser uma águia sobranceira
    de acutilante e penetrante olhar
    para do céu diáfano enxergar
    na sua vera essência a terra inteira!


    Quisera, Pascoaes, ter o teu génio,
    o teu talento, ó “Águia do Marão”,
    por obra de metáfora ou convénio!


    Quisera, como tu, perto dos astros
    voar, pensar, sem nunca estar de rastros
    ante o poder… em plena solidão!


    João de Castro Nunes

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