Olha, tão religiosamente vem
A noite envolta em neblina
Que os montes curvam-se a rezar o terço;
Tão religiosamente vem, tão fina
Que lembra, junto dum berço,
Uma cantiga de mãe
Cantada em surdina...
Olha, anoiteceu nos campos,
Anoiteceu no mar dos pescadores,
Nem um sopro das brisas acalenta
O sono das flores
E o céu, como um trigal, é todo pirilampos.
Escuta agora:
Em toada lenta,
Num hausto de vida,
Tombar da ermida
Os soluços da Hora...
E tudo adormeceu. Calou-se tudo,
As montanhas concentram-se em estudo;
A névoa branca envolve numa estringe
Os montes em oração
E cada pedra é boca duma esfinge
A beijar a Solidão...
Minha Amiga!
Olha como o Passado fica perto!
Nesta hora em que a treva tudo irmana
Dentro de mim ressurge a Alma Antiga
E, na poeira vil do meu deserto,
Passa a Caravana... [...]
José Castelo de Morais
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013
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