Não queiras, Lídia, edificar no spaço
Que figuras futuro, ou prometer-te
Amanhã. Cumpre-te hoje, não 'sperando.
Tu mesma és tua vida.
Não te destines, que não és futura.
Quem sabe se, entre a taça que esvazias,
E ela de novo enchida, não te a sorte
Interpõe o abismo?
Fernando Pessoa (1888 - 1935), no heterónimo Ricardo Reis, in "Odes"
domingo, 10 de julho de 2011
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1 comentário:
Arremedando Horácio, menorizado por Pessoa:
Goza-te, Lídia, dos botões de rosa
que em ti florescem no pulsar da vida,
enquanto as rugas, vindas em seguida,
não lavram tua face radiosa!
Não deixes escapar o dia de hoje
sem te gozares, Lídia, honestamente,
deixando-te ir na força da corrente,
da tua juventude que te foge!
Olha que a primavera são dois dias,
depois dos quais terás de suportar
o caloroso estio e, se calhar,
já velha, tenebrosas invernias!
Quem sabe acaso, Lídia, se amanhã
a chama do teu corpo ainda arderá?!
JOÃO DE CASTRO NUNES
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