Sem memória não teríamos “Tempo”, viveríamos na surpresa constante do momento presente
Como nos explica um dos entrevistados nesta edição, o físico Carlos Fiolhais, nas equações que descrevem o movimento de partículas, o tempo é reversível: tanto faz andar para a frente ou para trás. Sabendo nós que há uma “seta do tempo”: o Universo vai do passado para o futuro (este é o teor da Segunda lei da Termodinâmica) e não ao contrário. A questão – de modo nenhum resolvida ¬– é como se passa do tempo reversível à escala microscópica para o tempo irreversível à escala macroscópica. Este é um dos grandes mistérios do tempo.
Já o astrónomo Rui Agostinho, que também ouvimos, faz notar que Sem memória não teríamos “Tempo”, viveríamos na surpresa constante do momento presente.
Quanto ao diplomata Francisco Seixas da Costa, agora reformado, interroga-se: Será que ainda vou a tempo para muitas coisas que não fiz, porque então não havia tempo para nada? Nos dias de hoje, abro a janela, de manhã, para saber o tempo que faz. É que não há tempo a perder: os dias de sol não esperam por nós, se não lhes dedicarmos, gozando-os logo, o tempo que temos. […] O tempo, no fundo, é sempre a medida da vida que ainda temos à nossa frente.
Como já escrevemos, O Tempo mexe com tudo e todos, nada do que é Tempo nos é estranho. Ele passa pelos calhaus rolados, arredondando-os até os transformar em grãos de areia; ele assina a sua presença nos limos e outros organismos vivos que as marés vão depositando, ciclicamente, em camadas, nos rochedos da costa. Umas vezes somos mais rochas, a que o exterior se vai colando; outras, mais pedras rolantes, passamos antes pelo que nos é exterior e lá vamos deixando um pouco de nós. Há quem tenha mais de rocha encalhada, há quem seja mais seixo rolado. Mas, a tudo o que está imóvel ou a tudo o que se mexe, o Tempo trata por igual – tanto faz que seja ele a passar por nós ou nós a passarmos por ele.
Existimos há um quarto de século. Foi o Tempo que passou por nós, ou nós que passámos pelo Tempo?
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