A consciência europeia que nestas páginas se pretendia constatar tem que ver com
o tempo e com o espaço, isto é com a Nação. Uma nação é um espaço que o tempo
verifica, tem uma geografia particular e tem que ter um entendimento da sua situação, no
tempo geral. Uma nação que não exista no tempo. É um contrasenso (sic).
[...]
Gente sem tempo, como havemos nós de ter idade? O tempo meteorológico,
pautado pelo boletim diário da Emissora Nacional, nos tem espreitado oficialmente. Outro,
porém, que não esse, das couves e das constipações, nos espreita sempre, queiramo-lo ou
não, iludamo-lo ou não, ignoremo-lo ou não. E esse, o tempo que os outros vão sabendo,
na filosofia, na arte, na literatura, na música, na arquitectura, no teatro, no cinema,
livremente inventados e manifestados, - esse não perdoa. Não é por fecharmos os olhos
diante dos espelhos, que a nossa imagem lá se apaga, nem por as avestruzes esconderem a
cabeça na areia que o perigo deixa de existir.
[...]
Se o próprio relógio não satisfaz a necessidade do tempo europeu que
alguém sinta, consulte-se outra máquina e vá-se à Europa consultá-la. De lá se
ensinará os nossos relojoeiros a saber o que são relógios. E então, consultando
os próprios, formados bastantes, se passará a conhecer as horas alheias e
comuns.
José-Augusto França - Post-facio a toda a obra ou “de par ma chandelle verte” in
Pentacórnio, Dezembro de 1956
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