Olhar-vos fui desejar
pera sempre padecer,
e ver-vos, ver-me perder,
sem saber
maneira de me cobrar.
Porque assi me namorei
em ver-vos, quando vos vi,
que quando de vós parti,
parti-me de vós sem mi,
porque convosco fiquei.
Parti-me com afeiçam,
combatido de trestura,
trouxe vossa fremosura,
vossa duçura,
dentro no meu coraçam.
Que tanto me faz ser vosso,
de cuidado tam sobejo,
que sem vos ver eu vos vejo
tam vencido de desejo
que valer-me ja nam posso.
Pode vossa mercê crê-lo
que fiquei de vós roubado,
tam perdido d' ũ cuidado,
namorado,
que me daa gram dor dizê-lo.
Onde as horas por meus danos,
que se vam que nam vos vi,
polo plazer que perdi
horas sam que foram anos
de tormento pera mi.
Assi, dama graciosa,
a pena que me causastes,
quando vos vós amostrastes,
que matastes
com ver-vos tanto fremosa.
Matou-me logo querer
em ver-vos sem mais tardar,
perdi-me sem me cobrar
e matou-me em vos olhar
vosso lindo parecer.
E com isto de vós ja
é minha força vencida,
estaa em vós a medida
de minha vida
assi como em Deos estaa.
Vós tendes meu coraçam
cativo de vossa beleza,
eu por vós tenho tristeza,
vós de mim grande firmeza,
eu de vós sem galardam.
Fim.
Mas pois tanto mal consiste
em quanto vós causareis,
matar-me, pois, podereis
ou me fareis
alegrar ou fazer triste.
Me faz mui grande temor,
senhora Dona Ilena,
de dizerem que com pena,
que vossa mercê ordena,
morte ha ũu servidor.
Duarte de Brito, in Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende
domingo, 19 de julho de 2015
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2 comentários:
Ando tão triste, amor meu,
por causa da tua ausência
que mesmo ausente no céu
não sais da minha existência!
JCN
Para o ser, a Poesia
tem de ser curta e directa
como se fosse uma seta
que nada pára ou desvia!
JCN
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