sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Memória - O cérebro e o tempo - II
O cérebro e o tempo II*
Parece que os seres humanos conseguem calcular com precisão pelo menos um intervalo de tempo. Esta capacidade aparentemente inata foi pela primeira vez descrita em 1868 por um pioneiro na pesquisa do tempo, Karl von Vierordt, que baptizou este intervalo de tempo de “ponto de indiferença”. Os estudos dele e subsequentes demonstraram que sons com menos de três segundos de duração são percebidos como tendo durado mais do que a realidade, enquanto os sons com mais de três segundos são percebidos como tendo durado menos.
Este “ponto de indiferença” de três segundos – o intervalo em que a impressão subjectiva e a duração objectiva são sensivelmente as mesmas – tem permanecido inalterado nos últimos 100 anos.
“Tendo em vista as revoluções tecnológicas e sociais – e a aceleração da cultura – ocorridos no passado século, esta consistência parece bastante notável”, diz Pascal Wallisch no artigo do Scientific American que temos vindo a citar. “Os meios rápidos de transporte moderno e as comunicações instantâneas produziram um modo de vida acelerado. A televisão e os vide-clips aceleraram os nossos hábitos. Mesmo assim, este período crucial de três segundos parece ter permanecido invariável, sugerindo que ele estará impresso no cérebro”.
Alguns cronobiologistas e estudiosos do cérebro acreditam que esta janela de tempo pode estar relacionada com outro aspecto da nossa experiência temporal, a do presente. Ernst Poeppel, da Universidade de Munique, fala do “presente subjectivo” quando refere o curto intervalo de tempo que percepcionamos não ainda como passado nem já como futuro – o “agora” mental.
Outra maneira da nossa mente construir a noção de tempo é ilustrada pela qualidade de ordem temporal – a mente determina a ordem dos acontecimentos. Crono-psicólogos descobriram algumas características interessantes dessa nossa capacidade inata, especialmente quanto à percepção da não simultaneidade e da sequência. A resolução cronológica da percepção determina se dois flashs de luz ou dois sons parecem ocorrer separadamente ou de forma simultânea. “Se os estímulos são apresentados abaixo de um determinado intervalo – por outras palavras, em sucessão rápida – eles são percepcionados como tendo-se fundido, e experimentamo-los como sincrónicos ou contínuos”, faz notar Wallisch.
“Cada canal sensorial tem o que se chama o seu ponto de fusão – o nosso ouvido é muito acurado, com uma resolução cronológica de dois milissegundos; a nossa visão, pelo contrário, fica geralmente ultrapassada a partir dos intervalos de 40 milissegundos”, acrescenta ele. É devido a essa falta de percepção visual de sequências rápidas que, por exemplo, vemos as imagens da televisão como um contínuo e não como uma sucessão rápida de “paralíticos instantâneos”.
*Segunda de uma série de crónicas, A Máquina do Tempo, dedicadas a este tema, começadas a publicar em Março 2008 no Casual, suplemento do Semanário Económico
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