Quanto mais me achego para a sepultura,
Mais me alembra a infância com os seus clarões!
Os clarões acesos, numa noite escura,
Só co'a vista aquecem - fachos de ventura -
Quando a morte agreste gela os corações.
Oiço a voz do berço com que me embalavam
Alternando as coplas, minha mãe e irmã;
Sinto os doces beijos, com que me acordavam,
Quando as cotovias a cantar entravam,
E eu abria os olhos logo de manhã!
Vivo aquela Vida; provo aquele encanto,
Das abelhas d'oiro néctar divinal,
Com que a mãe, nos braços, me enxuga o pranto,
Com que a irmã, brincando, me entretinha tanto
No jardim florido do meu morangal!...
Bulhão Pato
sábado, 8 de dezembro de 2012
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