O vento percorre a terra,
Vento de neve,
E sobre a mesa há uma vela,
Arde uma vela.
Como no Verão atrai o fogo
Tantos mosquitos,
Turbilhonando, vão os flocos
Colar-se aos vidros.
No vidro esculpe o próprio gelo
Arcos e flechas.
E sobre a mesa há uma vela,
Arde uma vela.
No tecto alto as sombras correm,
Sombras cruzadas.
Pernas e mãos que se recobrem,
Destinos vários.
Tudo se perde nas nevoentas
Noites de neve.
E sobre a mesa há uma vela,
Arde uma vela.
Súbito a chama, desorientada,
Que tentação!:
Sombra de um anjo, asas cruzadas
Em oração.
Em Fevereiro o vento sopra,
Vento de neve.
E sobre a mesa há uma vela,
Arde uma vela.
Boris Pasternak, in O Doutor Jivago, tradução de David Mourão-Ferreira
domingo, 2 de fevereiro de 2014
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1 comentário:
A vela em cima da mesa
projecta sombras estranhas
formando teias de aranhas
de diversa natureza!
JCN
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