O paradoxo do Instante não é o de acabar quando surge. Esse dever o impomos nós ao "banal instante" talhado na peça imaginariamente substancial do Tempo. O paradoxo do Instante é o de nunca ter principiado e não poder ter fim. Ninguém verá a cabeça nem a cauda de tal monstro. Nascemos a bordo e a caminho, como Pascal, seu primeiro grande viajante sem bagagem, claramente o soube. A forma do barco onde vamos sem a vermos é o mesmo Instante. Nele deslizamos, estranhamente parados, não para a Eternidade, mas na Eternidade. Atrás deixamos a espuma do Tempo. Contudo, o Instante não é Eternidade nem Tempo, miragens da travessia quando ela é um deserto. Do porto onde não chegaremos formamos a Eternidade, do que não deixámos, o Tempo. Ambos são sósias do Nada, formas gémeas e inversas de perder o Instante. [...]
Eduardo Lourenço, Tempo e Poesia, in Colóquio, 1959
sexta-feira, 24 de agosto de 2012
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1 comentário:
Na vida humana um instante
em qualquer modalidade
pode ser mais relevante
do que a própria eternidade!
JCN
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