Canção da noite
Toda a gramática dos meus cavalos
Foi um arrastar de carros, passo a passo,
Ó noite, chicoteia os meus cavalos!
Trago os olhos abertos. Vem fechá-los!
E deita areia e tojo em teu regaço!
Ergui no ar sonâmbulas espadas
E calei preces, em delírio mudo.
E és tu que me deformas e degradas.
Insónia, mãe das culpas ignoradas.
Ó noite de cicuta e de veludo!
A escolta dos mendigos não tem fim.
E são tão poucos os que pedem pão!
Quisera adormecer dentro de mim…
Por que enganaste o sonho do arlequim
Se não há sombra, ó treva, em tua mão?
Que ninguém me responda! Estou cansado.
(Rompi o fato. A arena era redonda…)
Por que há-de ser só nosso o que é roubado?
Que ninguém me responda! Estou cansado…
- Ah! Não haver ninguém que me responda!
Pedro Homem de Mello
terça-feira, 19 de junho de 2012
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