Rousseau, d’Alembert, Chamfort, Voltaire e a Relojoaria (conclusão)
É possível que Voltaire tenha descoberto o seu interesse pela relojoaria durante a sua estadia na corte de Frederico da Prússia (1750-1753), grande amante de relógios e que tinha uma importante colecção de pêndulos franceses. Mas sabe-se também que Voltaire gostava especialmente dos relógios de Julien Leroy, o célebre relojoeiro parisiense (1686-1751). “Ele terá dito ao filho, Pierre Leroy, que o seu pai e o marechal de Saxe tinham vencido a Inglaterra”, afirma a historiadora Isabelle Frank Luxemburg. A Inglaterra era no séc. XVIII um grande centro relojoeiro e o mais feroz concorrente da França no que dizia respeito ao desenvolvimento de novas proezas técnicas.
“Voltaire, antes de fundar a sua própria manufactura de relógios, tinha já comprado nos anos 60 vários relógios, segundo consta do seu livro de contabilidade”, faz notar a historiadora, que trabalhou a relação entre Voltaire e o Tempo. “O inventário do seu castelo em Ferney dá-nos conta de que ele tinha lá seis relógios de pêndulo, dois deles no seu quarto”.
Ao fundar em 1770 uma manufactura de relógios, “o rei de Ferney”, como gostava agora de se descrever, Voltaire seguia uma moda do seu tempo e encontrava-se em bem ilustre companhia. Na época, os monarcas europeus Luís XV, Luís XVI, Frederico II, Catarina II e José II esforçavam-se por criar manufacturas relojoeiras nos seus respectivos reinos. Em Portugal, no reinado de D. José I, e por iniciativa do Marquês de Pombal, fundava-se em 1765, no Bairro das Amoreiras, em Lisboa, uma Real Fábrica de Relojoaria, a primeira do seu género no país, e que teve à sua frente mestres relojoeiros franceses.
A criação de uma manufactura relojoeira inscrevia-se paralelamente no quadro do projecto voltairiano de transformar Ferney, na sequência da revogação do Édito de Nantes (liberdade religiosa), num burgo florescente e obediente ao lema que o filósofo decretara para o seu pequeno mundo – “Fazer o Bem”. Depois de se ter dedicado à agricultura, Voltaire fundou sucessivamente na localidade uma olaria, uma fábrica de faiança, uma outra de telhas, uma tanoaria e um tear de seda, antes de fundar a manufactura de relojoaria.
Os relojoeiros empregues por Voltaire eram franceses huguenotes ou seus descendentes que tinham fugido para Genebra e que agora regressavam sob o guarda-chuva do filósofo.
E dá-se aí mais uma experiência utópica. Nas cartas que dirigia às personalidades mais destacadas do seu tempo, Voltaire insistia na necessidade de protecção para a sua pequena república. A uns enviava amostras do trabalho realizado pelos seus “súbditos”; a outros pedia ajuda na importação de ouro para o fabrico das caixas dos relógios. A outros ainda pedia que intercedam junto do rei de França, para que encomendasse os seus relógios, que oferecia a preços muito mais baixos que os relojoeiros de Paris, Londres ou Genebra.
A manufactura de Ferney funcionou até 1778, não resistindo à morte de Voltaire. Durante os nove anos de laboração fez só relógios de bolso, com caixas decoradas a esmalte, à moda da época, alguns sonneries, especialmente para os mercados francês, russo, espanhol e turco.
É possível que Voltaire tenha descoberto o seu interesse pela relojoaria durante a sua estadia na corte de Frederico da Prússia (1750-1753), grande amante de relógios e que tinha uma importante colecção de pêndulos franceses. Mas sabe-se também que Voltaire gostava especialmente dos relógios de Julien Leroy, o célebre relojoeiro parisiense (1686-1751). “Ele terá dito ao filho, Pierre Leroy, que o seu pai e o marechal de Saxe tinham vencido a Inglaterra”, afirma a historiadora Isabelle Frank Luxemburg. A Inglaterra era no séc. XVIII um grande centro relojoeiro e o mais feroz concorrente da França no que dizia respeito ao desenvolvimento de novas proezas técnicas.
“Voltaire, antes de fundar a sua própria manufactura de relógios, tinha já comprado nos anos 60 vários relógios, segundo consta do seu livro de contabilidade”, faz notar a historiadora, que trabalhou a relação entre Voltaire e o Tempo. “O inventário do seu castelo em Ferney dá-nos conta de que ele tinha lá seis relógios de pêndulo, dois deles no seu quarto”.
Ao fundar em 1770 uma manufactura de relógios, “o rei de Ferney”, como gostava agora de se descrever, Voltaire seguia uma moda do seu tempo e encontrava-se em bem ilustre companhia. Na época, os monarcas europeus Luís XV, Luís XVI, Frederico II, Catarina II e José II esforçavam-se por criar manufacturas relojoeiras nos seus respectivos reinos. Em Portugal, no reinado de D. José I, e por iniciativa do Marquês de Pombal, fundava-se em 1765, no Bairro das Amoreiras, em Lisboa, uma Real Fábrica de Relojoaria, a primeira do seu género no país, e que teve à sua frente mestres relojoeiros franceses.
A criação de uma manufactura relojoeira inscrevia-se paralelamente no quadro do projecto voltairiano de transformar Ferney, na sequência da revogação do Édito de Nantes (liberdade religiosa), num burgo florescente e obediente ao lema que o filósofo decretara para o seu pequeno mundo – “Fazer o Bem”. Depois de se ter dedicado à agricultura, Voltaire fundou sucessivamente na localidade uma olaria, uma fábrica de faiança, uma outra de telhas, uma tanoaria e um tear de seda, antes de fundar a manufactura de relojoaria.
Os relojoeiros empregues por Voltaire eram franceses huguenotes ou seus descendentes que tinham fugido para Genebra e que agora regressavam sob o guarda-chuva do filósofo.
E dá-se aí mais uma experiência utópica. Nas cartas que dirigia às personalidades mais destacadas do seu tempo, Voltaire insistia na necessidade de protecção para a sua pequena república. A uns enviava amostras do trabalho realizado pelos seus “súbditos”; a outros pedia ajuda na importação de ouro para o fabrico das caixas dos relógios. A outros ainda pedia que intercedam junto do rei de França, para que encomendasse os seus relógios, que oferecia a preços muito mais baixos que os relojoeiros de Paris, Londres ou Genebra.
A manufactura de Ferney funcionou até 1778, não resistindo à morte de Voltaire. Durante os nove anos de laboração fez só relógios de bolso, com caixas decoradas a esmalte, à moda da época, alguns sonneries, especialmente para os mercados francês, russo, espanhol e turco.
Calcula-se que a produção em Ferney tenha sido de cerca de mil relógios por ano, comparado com 33 mil que se produziam em Genebra. Tendo em conta que em Ferney trabalhavam em média cem relojoeiros e que em Genebra havia nessa altura 5 mil, os números são razoáveis.
Os mestres-relojoeiros da manufactura de Voltaire em Ferney assinaram as suas obras “Dufour & Céret”, Valentin & Dalleizette”, “Servant & Boursault” ou “Panrier & Mauzié”. Cerca de dezena e meia de relógios Voltaire (ele nunca assinou nenhum deles, limitando-se a financiar a operação e a publicitá-la junto dos ricos e poderosos que conhecia) chegaram até aos nossos dias. Estão em museus, como o da manufactura Vacheron Constantin, o de Relojoaria, ou o da casa-museu do filósofo, em Genebra, ou ainda no Louvre, em Paris.
Terminamos estas andanças pelo tempo dos Enciclopedistas citando Claude-Daniel Proellochs, um histórico da relojoaria suíça, oriundo de uma família com grande tradição no sector. Aquele que foi Presidente da Vacheron Constantin de 1988 a 2005 e que passou depois pela deWitt, tem uma explicação para a relação entre os filósofos e os relojoeiros: “ambos reflectem sobre a marcha do Tempo”.
Publicado na Espiral do Tempo
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