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Editorial:
A campanha 360
Duas irmãs, num final de tarde de Verão, junto a uma piscina de um hotel, no Algarve. A mais pequena, debruçada sobre a água, chama insistentemente pela outra – acaba de descobrir um insecto negro esverdeado, talvez um escaravelho. Quer que a irmã venha ver, mas a mais velha não larga o telemóvel. Chama-a mais duas ou três vezes. Até que, entre o furioso e o decidido, corre para a irmã e tira-lhe o telemóvel. Aproxima-se do bicho, fotografa-o. E volta de imediato para junto da irmã. Riem-se, partilham a foto. A realidade é apenas o que se está a passar no ecrã, só ele filtra o que “acontece”, o resto não existe. E existe “mais” se for partilhado.
Dois irmãos de visita a um sobrinho, num monte do Alto Alentejo. Este último, doutorado em Sociologia, encontrou na Agricultura biológica uma saída para o desemprego. Vive há meses sozinho no monte, encorajado pelos pais, especialmente pela mãe. Um dos projectos mexe com abelhas. Nessa misteriosa e quase sagrada arte da apicultura, filho e mãe vão aprendendo aos poucos, por tentativa e erro. Munidos de fatos apropriados, visitam as colmeias, em plena laboração e agitação. O tio, também ele de fato protector posto, grita que tem medo, que não quer aproximar-se, interroga-se sobre a segurança do chapéu, da gaze, do fato-macaco. E fica a apreciar a cena, ao longe. Quando a irmã e o sobrinho regressam das colmeias, pede-lhes que lhe tirem uma foto. “Para meter no Facebook”. Somos o que somos nas redes sociais, não somos o que somos…
Estas duas histórias são verdadeiras, dizem muito da geometria variável que nos vai moldando as mentes – cada vez mais feita a partir de realidades virtuais e mundos digitais.
Os gurus do marketing, desesperados com a saturação da mensagem, aconselham os seus clientes. E falam da “Campanha 360”, querendo dizer com isso evento, anúncio, filme, redes sociais. Mas os três primeiros só “existem” quando estiverem online…
Para a indústria do luxo, o perfil do consumidor está cada vez mais no perfil nas redes sociais do indivíduo e não tanto no antigo perfil – sexo, idade, extracto social, educação… Também nós somos cada vez mais digitais e cada vez menos físicos.
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