foto tirada da Net
Através de Luís Geraldes, acabámos de receber a notícia - morreu o Professor Doutor João de Castro Nunes, docente universitário jubilado, pedagogo, investigador nas áreas da filologia e arqueologia, poeta, além de colaborador assíduo do Estação Cronográfica desde 24 de Novembro de 2010.
Não chegámos a conhecer pessoalmente João de Castro Nunes, mas mantivemos com ele contacto assíduo por email, tendo-lhe repetidas vezes agradecido a profícua colaboração, muitas vezes transformada de comentário em post, através da nossa secção Meditações, com que costumamos começar o dia (como aconteceu hoje).
No Estação Cronográfica, a poesia de João de Castro Nunes vai continuar presente por muitos meses, pois temos comentários que estão à espera de aparecer como Meditações.
Bem-haja, Professor! RIP.
foto do blog Cultura Outra
Por sugestão de Luís Geraldes, publicamos "Poética morada", onde Castro Nunes manifesta o seu perene amor pela mulher.
Enquanto eu vivo for, todos os dias,
na igreja do convento franciscano
será rezada missa todo o ano
por alma tua, como tu querias.
Ao pé do cemitério onde descansas
e onde eu decerto ficarei também,
o conventinho está, donde provém
um místico arrulhar de pombas mansas.
Lá professou Fernando de Bulhões,
o nosso Santo António de Lisboa,
mas, em primeira mão, dos Olivais.
Vê lá tu, meu amor, que coisa boa
vai ser os dois ficarmos em covais
juntinhos escutando os seus sermões!
Deixamos também aqui a primeira colaboração de João de Castro Nunes no Estação Cronográfica, um post de 24 de Novembro de 2010:
Intemporalidade
O Tempo não tem tempo, é indivisível,
sem princípio nem fim, contínua linha
que nós, na nossa mente comezinha,
cortamos para ser-nos perceptível.
Só Deus o abarca em toda a dimensão
sem distinguir presente do futuro,
pois tudo é uno, não havendo muro
que possa limitar sua visão.
O tempo para nós é a divisória
entre os dois pólos em que se confina
a nossa curta vida transitória.
Talvez um dia a Deus incorporados,
ao cabo desta vida peregrina,
nos sejam seus segredos partilhados!
João de Castro Nunes e a câmara de Arganil entraram, a dado momento, em choque, provocado pela indefinição do destino a dar ao acervo arqueológico por ele trabalhado, como conta aqui o seu filho, Manuel Castro Nunes.
O virtual Museu Regional de Arquelogia de Arganil tem o nome de João de Castro Nunes, em sua homenagem
Da página do Museu no Facebook respigamos:
O Museu Regional de Arqueologia Professor Doutor João de Castro Nunes é um espaço virtual cujo fim é, no fundamental, divulgar e proceder à apresentação remota dos materiais recolhidos no âmbito de dezenas de anos de campanhas no centro de Portugal, nomeadamente nos distritos de Coimbra, Guarda e Viseu, com particular relevância para as intervenções nas antas da região, numa perspectiva de revisão das metodologias até então em curso. O núcleo fulcral da intervenção do Professor Doutor João de Castro Nunes foi, sem dúvida, a estação arqueológica da Lomba do Canho, acampamento militar romano do período tardo-republicano e dolmen nº 1 dos Moinhos de Vento. Importa referir que o suporte material aqui divulgado, constituído por um importante acervo de materiais, se encontra, por razões que agora não vem ao caso comentar, à guarda da Câmara Municipal de Arganil sem paradeiro certo e em precárias condições de segurança. A intenção do Professor Doutor João de Castro Nunes, arganilense por afinidade, foi sempre a de preferentemente instalar em Arganil o Museu Regional de Arqueologia, que chegou a estar condignamente exposto e aberto ao público nos Paços do Concelho durante mais de um década e de onde acabou por ser ''despejado'' por determinação camarária. Tudo faremos para que este espaço, que se quer activo e partilhado, não se transforme num covil de ratazanas pervertendo as intenções que lhe estão subjacentes.
O sítio arqueológico da Lomba do Canho, Acampamento Romano e Dólmen do Moinho de Vento, foi sem dúvida o centro polarizador da actividade e investigação arqueológica desenvolvida pelo Professor Doutor João de Castro Nunes em todo o centro do País. Aí se iniciaram na arqueologia algumas centenas de jovens durante algumas gerações cruciais para a divulgação da arqueologia.
No âmbito do seu trabalho de estudo e investigação, o Professor Doutor João de Castro Nunes estendeu o seu labor a um campo muito extenso de matérias e assuntos, desde a filologia clássica e românica, a história regional e literária, a história da arte e da cultura, a epigrafia, à arqueologia. Sem dúvida, uma das suas teses mais originais, laborada já no recolhimento que lhe permitiu o afastamento da actividade lectiva, é a sua tentativa de recolocar a problemática dos ditos ''Paineis de Nuno Gonçalves'' em contextos de reflexão e análise inovadores.
Leia a tese de Castro Nunes sobre os Painéis, aqui. Leia aqui, aqui ou aqui as homenagens à sua figura.
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