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segunda-feira, 21 de maio de 2012

World Jewellery Forum - Entrevista ao gemólogo Rui Galopim de Carvalho - aumentam as preocupações éticas e sociais


Rui Galopim de Carvalho

Estação Cronográfica esteve a passada semana em Itália, convidada da Fiera di Vicenza / VicenzaOro, do World Diamond Council e do CIBJO - The World Jewellery Confederation, para o World Jewellery Forum, a mais importante reunião do género em 2012.

O gemólogo português Rui Galopim de Carvalho, um dos mais reconhecidos especialistas na sua área, a nível internacional, foi um dos presentes nas várias reuniões, workshops e seminários que, de segunda a domingo, se realizaram em Vicenza. Falámos com ele.




Estação Cronográfica - Das decisões tomadas nas reuniões de Vicenza, quer salientar alguma?

Rui Galopim de Carvalho - Os trabalhos das comissões sectoriais da CIBJO são extensos e, em alguma medida, porventura um pouco maçadores para quem não acompanhe, por exemplo, as actualizações sucessivas e extremamente relevantes dos chamados Blue Books (livros azuis) que a Confederação produz para apoio do sector, em especial na regulamentação de nomenclatura que, no essencial, visa promover harmonia de designações e, mais importante ainda, defenir regras de informação ao consumidor com vista à promoção da confiança do mesmo nos produtos, neste caso as jóias em metais preciosos com ou sem pedrarias.

Nesta matéria, foram tomadas decisões para a harmonização da organização dos conteúdos dos cinco actuais livros (diamantes, pedras de cor, pérolas, metais preciosos e laboratórios gemológicos) e actualizados alguns artigos relativos a novos desenvolvimentos registados desde o último congresso que, recorde-se, se realizou no Porto em Março de 2011.

Todavia, o que eu destacaria, dada a actualidade da questão, é o empenho que a CIBJO neste momento manifesta nas questões de segurança que, em virtude do constante aumento dos custos das matérias primas, em especial do ouro, têm assolado todo o sector por todo o Mundo. Promove-se neste momento o diálogo entre os representantes dos vários países no sentido de criar estratégias de combate a este flagelo que tem causado prejuízos significativos às empresas e, em alguns casos, danos pessoais aos colegas. Estas estratégias passam pela partilha de informação, pela melhor comunicação entre os operadores, companhias de seguros e autoridades locais e internacionais e, sob a égide da CIBJO, esperam-se desenvolvimentos importantes nesta matéria.

EC - A Fiera di Vicenza anunciou estar a negociar uma parceria com o Brasil, para a realização de eventos e ou exposições. Isso não se poderia alargar a Portugal (Portojóia, por exemplo)?

RGdC - Talvez mais interessante do que o plano estratégico da Fiera di Vicenza, um dos mais poderosos organizadores de certames da Europa, para a sua internacionalização com fomento de parcerias, eu salientaria a decisão que foi tomada no conselho de administração da CIBJO que criou uma nova comissão, a "Trade Fair Comission", por acaso liderada pelo Director Executivo da Fiera di Vicenza, Corrado Facco. O propósito deste novo grupo de trabalho é agregar outros organizadores de certames do sector a nível mundial, com a Exponor, organizadora da Portojóia, como potencial membro, para criação de uma plataforma de diálogo entre o Sector e os organizadores de feiras de joalharia para melhor servir os interesses da joalharia. A forma como este processo se irá desenrolar é ainda uma incógnita, visto que a comissão é recente e irá ainda apresentar uma agenda de trabalhos e objectivos de curto prazo. Nessa altura, poderemos aquilatar da oportunidade desta iniciativa e, como portugueses, tentar que a Exponor se veja motivada a acompanhar os trabalhos.

EC - As principais organizações internacionais do sector estão interessadas em alargar o âmbito da definição de "diamantes de conflito" no Kimberly Process. O que acha disso?

RGdC - A definição de diamante de conflito, por muitos apelidados de "diamantes de sangue" ainda é a que, actualmente, se encontra veiculada pelas Nações Unidas (ONU) e que, no essencial, diz que são diamantes procedentes de regiões controladas por forças ou facções oponentes a governos legítimos internacionalmente reconhecidos. Tal definição foi criada no âmbito do grupo de trabalho promovido pelo WDC (The World Diamond Council), CIBJO (The World Jewellery Confederation), a ONU, diversas ONGs e representantes de todos os países produtores e consumidores/transformadores de diamantes há cerca de uma década aquando do estabelecimento do Sistema de Certificação do Processo Kimberley, de que Portugal, através do Ministério das Finanças, é signatário.

Acontece que actualmente, apesar da esmagadora maioria dos diamantes em bruto procederem de zonas onde não há manifestamente conflito armado nem financiamento de facções rebeldes com proveitos de extracção ilegal de diamantes, ainda subsistem situações de violência e violação dos direitos humanos que, por falta de enquadramento, não se podem considerar diamantes de conflito.

É, portanto, neste quadro que o WDC decidiu alargar o âmbito da definição, proposta que teve imediato apoio da CIBJO e que, portanto, se espera que seja considerada pela ONU. Dito isto, e inspirado nas palavras do presidente da CIBJO, Gaetano Cavallieri, está-se perante uma liderança sectorial leva muito a sério as questões dos direitos humanos em toda a cadeia de distribuição da joalharia e que pretende, com iniciativas concretas, erradicar todo o tipo de injustiça e violência do sector, sensibilizando e actuando para as questões da responsabilidade social e comércio justo. Tal decisão é, portanto, notável e mostra uma sector verdadeiramente empenhado em que toda a actividade económica seja sustentada por princípios como os que aqui se defendem.

EC - Fala-se de alargar ao ouro e outros metais preciosos os critérios Kimberly. O que pensa disso?

RGdC - No espírito do que referi na sua anterior questão, todas as iniciativas corporativas que promovam a maior transparência, boas práticas, sustentabilidade e responsabilidade social são essenciais para dar ao produto joalharia ainda mais argumentos de confiança junto do consumidor, pese embora o facto de, no caso do ouro, haja muitas mais áreas industriais e de actividade económica envolvidas, sendo a joalharia apenas uma e, nem por isso, a mais possante.



Em cima, aspectos dos trabalhos. Em baixo, a Piazza dei Signori, em Vicenza. Um sismo de grau 6 na escala de Richter abalou a região, no domingo de madrugada mas, apesar dos estragos em muitos edifícios históricos, a Torre do Relógio, ou Torre Bissara de Vicenza escapou mais uma vez incólume

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