Infância
Passa lento o tempo da escola e a sua angústia
com esperas, com infinitas e monótonas matérias.
Oh solidão, oh perda de tempo tão pesada...
E então, à saída, as ruas cintilam e ressoam
e nas praças as fontes jorram,
e nos jardins é tão vasto o mundo —.
E atravessar tudo isto em calções,
diferente de como os outros vão e foram —:
Oh tempo estranho, oh perda de tempo,
oh solidão.
E olhar tudo isto à distância:
homens e mulheres; homens, homens, mulheres
e crianças, tão diferentes e coloridas —;
e então uma casa, e de vez em quando um cão
e o medo surdo trocando-se pela confiança:
Oh tristeza sem sentido, oh sonho, oh medo,
Oh infindável abismo.
E então jogar: à bola e ao arco,
num jardim que manso se desvanece
e por vezes tropeçar nos crescidos,
cego e embrutecido na pressa de correr e agarrar,
mas ao entardecer, com pequenos passos tímidos,
voltar silencioso a casa, a mão agarrada com força —:
Oh compreensão cada vez mais fugaz,
Oh angústia, oh fardo!
E longas horas, junto ao grande tanque cinzento,
ajoelhar-se com um barquinho à vela;
esquecê-lo, porque com iguais
e mais lindas velas outros ainda percorrem os círculos,
e ter de pensar no pequeno rosto
pálido que no tanque parecia afogar-se — :
oh infância, oh fugazes semelhanças.
Para onde? Para onde?
Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
quinta-feira, 15 de setembro de 2011
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2 comentários:
Insuperável! JCN
ADOLESCÊNCIA
(Arremedando Rilke)
Passam lentas as horas nas escolas
ouvindo prelecções aborrecidas
em cadeiras de pau sem quaisquer molas
acerca de matérias enxabidas.
Os lentes com sisuda compostura,
de cátedra falando, empertigados,
alheios aos domínios da cultura,
os alunos massacram com tratados.
Lá fora correm doce e mansamente
as águas do Mondego, sobre as quais
Coimbra se debruça... indiferente.
Há rosas nos jardins à nossa espera,
sonhos, quimeras, rubros ideais
que tão-somente são da nossa esfera!
JOÃO DE CASTRO NUNES
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