Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de setembro,
quando a luz é perfeita e mais dourada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
Tu é a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.
Eugénio de Andrade (1923 - 2005)
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