Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

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sábado, 5 de junho de 2010

Pista da semana - Um relógio na Troca das Princesas

No rescaldo da guerra da Restauração, Lisboa e Madrid procuram, à boa maneira da época, cimentar a paz com alianças casamenteiras. O caso de Maria Bárbara, princesa, filha de D. João V e de sua mulher, a rainha Maria Ana de Áustria, é paradigmático.

Nascida em Lisboa em 1711 e falecida em Madrid em 1757, Bárbara de Bragança foi rainha de Espanha, pelo seu casamento em 1729 com Fernando VI. Figura interessante, era extraordinariamente culta (falava francês, alemão e italiano, fora discípula de Domenico Scarlatti e era ela própria compositora).

O casamento de Bárbara com Fernando foi contratado quase ao mesmo tempo em que se tratou o do príncipe herdeiro português, D. José, com a princesa D. Maria Vitória, filha, tal como Fernando, de Filipe V de Espanha. Deliberou-se que se trocariam as duas noivas e, efectivamente, D. João V e a mulher acompanharam a filha até à fronteira alentejana, enquanto os monarcas espanhóis acompanharam até à Estremadura a futura mulher de D. José.

Segundo os relatos da época, a cerimónia que ficou conhecida como "a troca de princesas", a casar com os herdeiros das duas coroas, efectuou-se com grande pompa. D. João V mandou mesmo construir o Paço de Vendas Novas (hoje, Escola Prática de Artilharia), com o único fim de dar pousada durante duas noites, uma à ida e outra à volta, à comitiva portuguesa. Magnificências à custa do ouro do Brasil...

O enxoval de Bárbara foi “grandioso e deslumbrante”. Talvez por se saber do gosto particular do futuro Fernando VI em relação à relojoaria, entre os presentes da Corte portuguesa à Corte espanhola estava um precioso relógio, encomendado a um dos mais famosos mestres do seu tempo, o britânico John Ellicott.
Trata-se de um relógio de caixa alta, em ébano, com decoração de bronzes cinzelados e dourados. O mostrador, metálico, com aplicações de bronze, com ponteiro dos segundos na parte superior, tem funções de equação do tempo, indicação de dias, noites e calendário lunar, abóbada celeste, além de calendário mensal, tempo solar, nascer e pôr-do-sol e fases do Zodíaco. Com todas estas indicações em português, este “regulador” tem corda para oito dias, escape de âncora e pêndulo compensado, o que faz dele uma das mais preciosas peças que ainda hoje se podem ver entre as Colecções Reais da Coroa espanhola.
Pormenor do John Ellicott que fez parte do enxoval

Relógio-gaiola, autor anónimo, finais do século XVIII, máquina francesa

Mas, a pista da semana é, não apenas o relógio de caixa alta John Ellicott oferecido por Portugal, mas a rica colecção de relógios que compõe o acervo do Património Nacional espanhol, que pode ser visto no Palácio Real de El Pardo, em Madrid.

Para saber mais: História do Tempo em Portugal - Elementos para uma História do Tempo, da Relojoaria e das Mentalidades em Portugal (Diamantouro, 2003)

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