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terça-feira, 5 de abril de 2016

Em Torno da China - Memórias Diplomáticas, novo livro do Embaixador João de Deus Ramos


A Fundação Oriente / Museu do Oriente, em Lisboa, foi ontem ao fim da tarde palco da apresentação de mais um livro do Embaixador João de Deus Ramos. "Em Torno da China / Memórias Diplomáticas", da editora Caleidoscópio, conta em centena e meia de páginas episódios vividos pelo primeiro representante diplomático português acreditado junto das autoridades da República Popular da China.


"Aterrei em Pequim em Março de 1979...", recorda o diplomata, que ficaria nos primeiros tempos instalado numa suite do Hotel Pequim, "esse enorme edifício amálgama de várias arquitecturas, em várias épocas", adjacente à praça de Tiananmen. "Quando se abre uma missão diplomática, no dia seguinte é enviado um telegrama para Lisboa dizendo isso mesmo. [...] Assim, com a emoção que tal perspectiva proporcionava, na manhã do dia seguinte preparei-me para ir aos correios enviar para Lisboa o telegrama nº1 da embaixada de Portugal na República Popular da China: 'Cheguei ontem a Pequim e abri embaixada. (Assinado) Ramos'".

Entre episódios picarescos, João de Deus Ramos recorda a visita, em 1980, do então Governador de Macau, Melo Egídio, à China. Num encontro com Deng Xiaoping, o líder do regime, este diria:
- Ouvi dizer que o Senhor é General.
Melo Egídio anuiu e Deng replicou:
- Pois olhe que eu sou só soldado!.

No seguimento da visita da Primeiro-Ministro Margaret Thatcher à China a questão de Hong Kong passara a estar na ordem do dia. Nesse contexto, João de Deus Ramos começa a pensar "num contributo que pudesse trazer alguma achega para a formulação da política externa portuguesa em relação a Macau. Não era necessário de imediato defini-la, mas pareceu-me prudente ir pensando no assunto", escreve nas Memórias. "Comecei então a preparar uma Informação de Serviço mais longa que habitual, pois acabou por ter 22 páginas, que apresentei aos meus superiores em Fevereiro de '83, sobre a questão de Macau. Volvidos trinta anos, retenho a sugestão então feita de que nos ancetipássemos a uma eventual e futura iniciativa chinesa e fôssemos nós a procurar abordá-los no sentido de clarificar o pensamento deles quanto ao caminho a seguir".

"A minha China, a de que gosto, não é qualificada, não é república popular, nem república nem império. É a China de sempre que dá que pensar, que faz pensar, e que quanto mais conhecemos, mais temos consciência do pouco que sabemos.É um esforço permanente, que não tem fim mas que é tão enriquecedor", diz o diplomata português no último capitulo do livro - A Minha China. "A China entra em nós para não mais nos deixar. Foi o que aconteceu comigo. Por nada, por nada mesmo, quereria que tivesse sido de outra maneira".

Com prefácios de José Henrique de Jesus e Carlos Gaspar, Em Torno da China aborda as passagens de João de Deus Ramos por postos diplomáticos no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa; em Tóquio e Genebra. Fala da chegada a Pequim para abrir a representação diplomática, da Declaração Conjunta luso-chinesa sobre Macau, do Período de Transição, do seu papel como Secretário-Adjunto para os Assuntos de Transição no Governo de Macau. Aborda a experiência como Embaixador no Paquistão, último posto antes de entrar na Administração da Fundação Oriente. E inclui um pequeno álbum fotográfico sobre os tempos que as Memórias abordam.


Coleccionador de relógios e canetas, João de Deus Ramos foi entrevistado para o Anuário Relógios & Canetas 2014, como pode ler aqui. (foto de Ricardo Bento)

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