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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Memória - Novos materiais I*

Um dos maiores relojoeiros de sempre, Abraham-Louis Breguet, dizia no séc. XVIII: “Dêem-me um óleo perfeito e eu dou-vos um movimento perfeito”. Duzentos anos depois, os dois calcanhares de Aquiles da relojoaria mecânica continuam a ser os óleos e a poeira, que ajuda à sua degradação.

Grandes progressos foram, no entanto, feitos ao longo dos últimos dois séculos para ultrapassar estas dificuldades.

Se, por um lado, os óleos orgânicos foram substituídos por óleos minerais – mais homogéneos, com maior durabilidade – os movimentos passaram a estar mais protegidos do pó, em caixas quase totalmente herméticas. Isso deu à micromecânica relojoeira uma fi abilidade superior e necessidade de manutenção cada vez mais espaçada.

De qualquer modo, os óleos vão perdendo as suas propriedades – secam, ganham “goma” ou evaporam – e as poeiras microscópicas atravessam sempre para o interior das caixas mais perfeitas, acumulando-se e misturando-se com os óleos.

Os óleos servem para as ligações entre partes móveis ou entre partes móveis e partes fixas, sendo nisso ajudados por rubis (começaram por ser pedras preciosas verdadeiras, hoje são
sintéticas). O que se pretende é diminuir ao máximo o atrito.
Na Primavera de 2005 a respeitada e conservadora manufactura genebrina Patek Philippe anunciava a primeira roda de escape em silício, um projecto desenvolvido em parceria com o Centro Suíço de Electrónica e Microtecnia e o Instituto de Microtecnia da Universidade de Neuchâtel.

Esta roda em silício é leve, dura (mais do que o aço, menos do que o diamante), amagnética, altamente resistente à corrosão, de forma mais perfeita e precisa que qualquer roda em aço e,
sobretudo, não necessita de lubrifi cação.

A massa de uma roda de silício é dois terços menor do que uma de aço. Esta qualidade física tem uma importância crucial numa roda de escape. Esta pequena peça, num relógio de pulso é, segundo a frequência do calibre, parada e depois acelerada (meia-oscilação), 6 a 8 vezes por segundo. Isso representa, por exemplo, 28.800 alternâncias por hora, 691.200 alternâncias por
dia, ou 252 milhões de alternâncias por ano, para um movimento que bate a uma frequência de 4 Hertz.

Num movimento tradicional, 65 por cento da energia do movimento é absorvida pelo mecanismo de escape. Isso significa que a massa da roda de escape tem uma influência determinante sobre o comportamento do movimento. Quanto menor é a massa da roda, mais a aceleração é importante, o que permite obter uma melhor transmissão da energia ao balanço.

No interior do balanço encontra-se outro orgão essencial – a espiral. Em 2006, a Patek Phillipe patenteou uma espiral feita em Silinvar, um material derivado do silício monocristalino).

Estes projectos são tão caros que o novo material foi desenvolvido em parceria com a Rolex e com o Swatch Group.

As propriedades e vantagens do Silinvar são semelhantes ao silício usado na roda de escape, acrescentando-se o facto de ter uma capacidade de deformação e regresso à posição inicial
superior à das ligas (também elas muito especiais) de que se compõem as espirais clássicas.

*Crónica A Máquina do Tempo, publicada a 19/10/07 no Casual, suplemento do Semanário Económico

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