Est. June 12th 2009 / Desde 12 de Junho de 2009

A daily stopover, where Time is written. A blog of Todo o Tempo do Mundo © / All a World on Time © universe. Apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente. Um blog do universo Todo o Tempo do Mundo © All a World on Time ©)

domingo, 11 de setembro de 2016

Meditações - o despertar nos campos, antigamente...

De madrugada os galos cantam, a quinta acorda, os cães de fila são acorrentados, a moça vai mungir as vacas, o pegureiro atira o seu cajado ao ombro, a fila dos jornaleiros mete-se às terras - e o trabalho, principia, esse trabalho que em Portugal parece a mais segura das alegrias e a festa sempre incansável, porque todo feito a cantar. As vozes vêm, altas e desgarradas, no fino silêncio, dalém; dentre os trigos, ou do campo em sacha, onde alvejam as camisas de milho cru, e os lenços de longas franjas vermelhejam mais que as papoilas. E não há neste labor nem dureza, nem arranque. Todo ele é feito com a mansidão com que o pão amadurece ao Sol, O arado mais acaricia do que rasga a gleba. O centeio cai por si, amorosamente, no seio atraente da foice. A água sabe onde o torrão tem sede, e corre para lá gralhando e refulgindo. Ceres nestes sítios benditos permanece verdadeiramente, como no Lácio, a Deusa da Terra, que tudo propicia e socorre, Ela reforça o braço do lavrador, torna refrescante o seu suor, e da alma lhe limpa todo o cuidado escuro, Por isso os que a servem, mantêm uma serenidade risonha na tarefa mais dura, Era essa a ditosa feição da vida antiga.

Eça de Queirós, in Correspondência de Fradique Mendes

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