Era meio dia, um meio dia de Verão ardente, asfixiante, calcinador, a hora em que tudo repousa, em que as aves se escondem na folhagem, as plantas inclinam as sumidades, desfalecidas de seiva, e os ribeiros quase nem murmuram, de débeis e exaustos que vão.
Nem uma tênue viração fazia sussurrar as alamedas e os soutos nos vales ou os pinheiros dos montes.
Apenas pelas sarças volteavam, como em danças caprichosas, enxames de insetos alados, sendo o seu zumbido importuno, ou o cantar longínquo dos galos, os únicos sons a interromperem o silêncio daquela hora.
Os caminhos e os campos estavam desertos; povoadas e fumegantes as cozinhas, onde a família do lavrador se reúne para a refeição principal do dia.
Mas quem estendesse a vista pelo extenso lanço de estrada a macadame, que corta em linha reta a povoação, e onde, naquele momento, o sol batia em cheio sem ser impedido por a menor folha de árvore, ou beira de telhado, descobriria o vulto de um cavaleiro, caminhando a trote e envolto na densa nuvem de poeira, levantada pelos pés da cavalgadura.
Este cavaleiro era João Semana.
Júlio Dinis, in As Pupilas do Senhor Reitor
quarta-feira, 17 de agosto de 2016
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